São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 1994
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Quércia ganha com alto índice de abstenção

GUTEMBERG DE SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O resultado mais relevante da prévia eleitoral do PMDB, além da esperada vitória do ex-governador Orestes Quércia, foi o alto índice de abstenção, principalmente nos Estados do Nordeste e Rio Grande do Sul.
Esta foi a conclusão que chegou o partido a partir dos dados enviados a Brasília até as 19h30. Rio Grande do Sul, com 86%, e Maranhão, com 73%, lideravam as abstenções.
Tamanha abstenção levou o presidente nacional do PMDB, deputado Luiz Henrique (SC), a reconhecer o "efeito renúncia" do senador Sarney e a concluir: "Ele (Sarney) teria tido um bom desempenho" se disputasse a prévia. "Jogou a toalha antes do tempo", afirmou.
Luiz Henrique não quis comentar qual cenário –com ou sem Sarney na disputa– seria mais favorável ao PMDB. "Um partido de verdade não escolhe adversários nem cenários", acrescentou.
Os resultados preliminares indicam onde o ex-governador Orestes Quércia deverá enfrentar seus maiores problemas dentro do próprio partido. Os números oficiais da prévia serão proclamados quarta-feira, em Brasília, em reunião da Executiva Nacional.
Contados os votos de 15 Estados, Quércia estava com 3.013, contra 1.613 do ex-governador do Paraná Roberto Requião até as 19h30 de ontem.
Mesmo faltando contar os votos de 12 Estados, o potencial de crescimento de Requião estava praticamente esgotado –dos 1.613 votos que ele tinha às 19h30, 1.057 foram conseguidos no seu Estado, o Paraná. Ali, Quércia juntou míseros 48 votos.
O ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP) desistiu de concorrer na semana passada. A saída de Sarney provocou um baixíssimo comparecimento às urnas no Nordeste. O partido avaliava ainda que o "já ganhou", a favor de Quércia, teria contribuído para as ausências.
A abstenção foi alta no Maranhão, terra de Sarney, e também no Amapá, Estado pelo qual se elegeu senador –faltaram 69% dos delegados esperados.
Altas taxas de abstenção foram verificadas ainda em Alagoas (21%), Ceará (36%) e Sergipe (58%). Na Bahia, terra do ex-ministro das Comunicações de Sarney, Antônio Carlos Magalhães, 63% dos delegados peemedebistas preferiram ficar em casa.
No Rio Grande do Sul, onde há forte resistência a Quércia, a taxa de abstenção foi de 86%. Mesmo assim Quércia, com 176 votos, ficou à frente de Requião, com 123. Santa Catarina registrou 54% de ausências e o Rio 45%.
Sarney desistiu porque avaliou que não teria chances de derrotar Quércia dentro do partido. Agora espera que a Justiça Federal denuncie o ex-governador no caso de importações sem concorrência de equipamentos de Israel e inviabilize sua candidatura.
Além da "desgraça" eleitoral de Quércia, Sarney tem como última cartada a possibilidade de abandonar o PMDB e filiar-se a um micropartido para concorrer à Presidência. Isso só pode acontecer se o STF reabrir o prazo de filiação partidária a partir do julgamento, na próxima quarta-feira, de um recurso impetrado pelo PSC.

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