São Paulo, terça-feira, 17 de maio de 1994
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Kieslowski é um dos favoritos à Palma de Ouro

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

"Três Cores: Vermelho", o filme-despedida do polonês Krzyzstof Kieslowski, confirmou-se ontem como um dos favoritos à Palma de Ouro de Cannes-94. Na coletiva que sucedeu à apresentação do filme, Kieslowski reafirmou sua intenção de deixar o cinema, mas foi menos categórico que em fevereiro último em Berlim. Um "quem sabe?" deixou publicamente entreaberta a possibilidade de um retorno.
Caso mantenha a decisão, Kieslowski se aposentará no ápice do prestígio. Os dois primeiros filmes da trilogia "Três Cores" foram sucessivamente premiados em Veneza-93 e Berlim-94. "Três Cores: Vermelho" conclui o ciclo em chave baixa, recusando qualquer espetacularismo.
Em "Vermelho", Kieslowski reduz a trama ao mínimo. Uma jovem modelo (Iréne Jacob) atropela a cadela de um solitário juiz aposentado (Jean-Louis Trintignant). O filme acompanha o desenvolvimento da amizade entre a bela e o eremita. Depois da liberdade ("Azul") e da igualdade ("Branco"), a fraternidade.
Tudo é apenas pretexto para Kieslowski retomar temas caros como a suprema importância do acaso e o eterno retorno da história humana. "Vermelho" está repleto de pretensas coincidências e de relações simétricas.
Não é o melhor Kieslowski, ma talvez seja aquele que mais explicitamente sintetize sua visão de mundo. Infelizmente toda sua originalidade e sutileza desaparecem na dispensável anedota final que amarra a trilogia.
Para compensar, um grande final é o que não falta a "Uma Pura Formalidade" de Giuseppe Tornatore. Talvez seja a obra mais polêmica do festival.
Rompendo com toda a linha nostálgica e melodramática que desenvolvera até aqui em filmes como "Cinema Paradiso", Tornatore rodou um drama policial entre quatro paredes em que se confrontam um inspetor (Roman Polanski) e um escritor suspeito de assassinato (Gérard Depardieu). É uma bela surpresa.
Por sua vez, "The Browning Version" manteve a competição na melhor média dos últimos anos. Ridley Scott ("Alien") produziu e Mike Figgis dirigiu esta nova versão para cinema da peça escrita em 1939 por Terecnce Rattigan. Albert Finney dá até aqui o show do festival como o severo professor de letras clássicas que é forçado à aposentadoria pela infidelidade da jovem esposa (Greta Scacchi). É um favorito certo.

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