São Paulo, terça-feira, 17 de maio de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Filme de Giuseppe Tornatore divide Cannes
AMIR LABAKI
Tornatore falou com exclusividade ontem à Folha. Explicou por que ficou quatro anos sem rodar um longa-metragem, discorreu sobre o nascimento de "Uma Pura Formalidade" e justificou suas sucessivas recusas de trabalhar para Hollywood. Leia abaixo uma síntese do encontro. Folha - Por que quatro anos separam "Estamos Todos Bem" de "Uma Pura Formalidade"? Giuseppe Tornatore - Levantar a produção de um filme é muito difícil. Neste período escrevi e preparei dois outros filmes. Um deles teve a produção cancelada um mês antes das filmagens e o outro um pouco antes. Folha - Como seriam? Tornatore - Não quero falar muito neles pois ainda pretendo realizá-los. Eu escrevi um para realizar nos EUA. Seria a história de um criminoso que anos depois se transforma num grande artista. O outro seria rodado inteiramente na Sicília e se passa entre o desembarque americano em 1944 e o final dos anos 60. É um filme sobre o mito da política como algo positivo, sobre uma época de nascimento de partidos, de crença no caminho político. Me interessa falar disso numa época como hoje, em que se vive o exatamente oposto. Folha - Depois do Oscar, que tipo de filme foi oferecido para você por Hollywood? Tornatore - Quase todos eram ou melodramas ou filmes com crianças, seguindo a linha de "Cinema Paradiso". Teria ficado milionário se tivesse aceito fazer esse jogo. Folha - "Uma Pura Formalidade" parte de um artista em crise criativa. É autobiográfico? Tornatore - Sim. Toda obra é parcialmente autobiográfica e desenvolve elementos da vida de cada criador. Mas, é claro que multipliquei a dimensão da crise. Ainda não cheguei ao desespero de meu protagonista. Folha - A precisa direção de seu filme exigiu um story-board muito detalhado? Tornatore - Gosto de desenhar as cenas mais difíceis de meus filmes, mas desta vez não o fiz. Em compensação, trabalhei com uma decupagem rigorossíma e um roteiro minucioso, que entrava em detalhes sobre cada movimento dos atores em cada cena. Folha - Você escreveu o filme tendo em mente Depardieu e Polanski? Tornatore - Quando comecei a escrevê-lo sabia que queria Depardieu. Polanski veio depois, quando já tinha começado a redação. Expus-lhe a idéia, ele gostou e aceitou e assim acabei de escrever pensando nele. Folha - Como você explica a divisão da crítica? Tornatore - Acho divertido. Isso sempre acontece comigo. As reações são quase sempre muito personalizadas. Nada que li contra "Uma Pura Formalita" discute o mérito do filme, é uma recusa em bloco. Talvez seja por que não seja o filme "italiano" que todos esperam. O crítico AMIR LABAKI está em Cannes a convite da organização do festival Texto Anterior: Kieslowski é um dos favoritos à Palma de Ouro Próximo Texto: Grupo Teatro Stabile di Torino estréia amanhã no Sesc Anchieta Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |