São Paulo, terça-feira, 17 de maio de 1994
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Filme de Giuseppe Tornatore divide Cannes

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

O Oscar de filme estrangeiro para "Cinema Paradiso" (1988) tornou o jovem Giuseppe Tornatore o líder da nova onda do cinema italiano. Hoje aos 38 anos, Tornatore divide Cannes com seu quarto longa-metragem, "Uma Pura Formalidade", exibido domingo na competição.
Tornatore falou com exclusividade ontem à Folha. Explicou por que ficou quatro anos sem rodar um longa-metragem, discorreu sobre o nascimento de "Uma Pura Formalidade" e justificou suas sucessivas recusas de trabalhar para Hollywood. Leia abaixo uma síntese do encontro.

Folha - Por que quatro anos separam "Estamos Todos Bem" de "Uma Pura Formalidade"?
Giuseppe Tornatore - Levantar a produção de um filme é muito difícil. Neste período escrevi e preparei dois outros filmes.
Um deles teve a produção cancelada um mês antes das filmagens e o outro um pouco antes.
Folha - Como seriam?
Tornatore - Não quero falar muito neles pois ainda pretendo realizá-los.
Eu escrevi um para realizar nos EUA. Seria a história de um criminoso que anos depois se transforma num grande artista.
O outro seria rodado inteiramente na Sicília e se passa entre o desembarque americano em 1944 e o final dos anos 60.
É um filme sobre o mito da política como algo positivo, sobre uma época de nascimento de partidos, de crença no caminho político.
Me interessa falar disso numa época como hoje, em que se vive o exatamente oposto.
Folha - Depois do Oscar, que tipo de filme foi oferecido para você por Hollywood?
Tornatore - Quase todos eram ou melodramas ou filmes com crianças, seguindo a linha de "Cinema Paradiso".
Teria ficado milionário se tivesse aceito fazer esse jogo.
Folha - "Uma Pura Formalidade" parte de um artista em crise criativa. É autobiográfico?
Tornatore - Sim. Toda obra é parcialmente autobiográfica e desenvolve elementos da vida de cada criador.
Mas, é claro que multipliquei a dimensão da crise. Ainda não cheguei ao desespero de meu protagonista.
Folha - A precisa direção de seu filme exigiu um story-board muito detalhado?
Tornatore - Gosto de desenhar as cenas mais difíceis de meus filmes, mas desta vez não o fiz.
Em compensação, trabalhei com uma decupagem rigorossíma e um roteiro minucioso, que entrava em detalhes sobre cada movimento dos atores em cada cena.
Folha - Você escreveu o filme tendo em mente Depardieu e Polanski?
Tornatore - Quando comecei a escrevê-lo sabia que queria Depardieu. Polanski veio depois, quando já tinha começado a redação.
Expus-lhe a idéia, ele gostou e aceitou e assim acabei de escrever pensando nele.
Folha - Como você explica a divisão da crítica?
Tornatore - Acho divertido. Isso sempre acontece comigo. As reações são quase sempre muito personalizadas.
Nada que li contra "Uma Pura Formalita" discute o mérito do filme, é uma recusa em bloco. Talvez seja por que não seja o filme "italiano" que todos esperam.

O crítico AMIR LABAKI está em Cannes a convite da organização do festival

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