São Paulo, terça-feira, 17 de maio de 1994
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Vitória?

Orestes Quércia, como era de se esperar, venceu com folga as prévias do PMDB, o maior partido do Brasil. Trata-se de uma candidatura polêmica mesmo dentro da legenda, como o atesta o grande número de abstenções registradas. Embora Quércia tenha sido eleito com 79% dos sufrágios, 52,33% dos peemedebistas habilitados a votar simplesmente não compareceram.
Tal nível de abstenção torna evidente que a escolha de Quércia não entusiasma o partido como um todo. É bem verdade que parte do não-comparecimento pode dever-se ao fato de que a disputa já estava praticamente decidida em favor do candidato paulista desde que foi concebida, principalmente depois da desistência de seu principal rival, o senador José Sarney.
Em alguns Estados em que são maiores as resistências contra Quércia, os índices de abstenção chegaram a 86,5% (RS) e 70% (MG). Minas e Rio Grande do Sul são, respectivamente, as segunda e terceira maiores secções do PMDB. Nas prévias, note-se, só vota uma seleção de filiados, ou seja, pessoas que têm militância no partido e não se ausentam das urnas por desinteresse, mas sim por razões políticas.
E essa falta de empolgação com a candidatura Quércia tem algum sentido. Além de estar mal-posicionado nas pesquisas, continuam a pesar sobre o candidato fortes suspeitas de irregularidades. O próprio Ministério Público Federal, por exemplo, encaminhou ao STJ denúncia contra o ex-governador devido ao caso Israel (importações sem licitação e aparentemente superfaturadas feitas em sua gestão).
E essa suspeita –ainda que não passe de uma suspeita, por enquanto– não cai nada bem num momento em que a imagem de probidade deverá ser fator determinante nas eleições. Caso o STJ aceite a denúncia –por estelionato, o famoso artigo 171 do Código Penal– a situação de Quércia poderá complicar-se bastante.
Por fim, a escolha do PMDB traz também problemas para o governo federal. O candidato acha que, uma vez que o Planalto apóia FHC, o PMDB deveria retirar-se do governo. Do ponto de vista eleitoral, faz sentido. Do ponto de vista do plano econômico, que ainda depende da aprovação da MP da URV e do Orçamento, pode ser mais uma dor de cabeça para o Executivo.

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