São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítico francês exalta o espírito da dança na obra de Matisse

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

O espírito da dança está em toda a obra de Henri Matisse (1869- 1954). Foi essa a tese defendida ontem pelo crítico francês Marcelin Pleynet no curso "Artepensamento", no auditório do Masp (Museu de Arte de São Paulo).
Para Pleynet –que por 20 anos foi editor da influente revista "Tel Quel" e hoje é professor de Estética na École des Beaux Arts de Paris–, Matisse foi um artista do espaço, antes de mais nada.
Para explicar a idéia, Pleynet começou lembrando fatos do início da carreira do pintor. Matisse, por exemplo, copiava quadros de Quentin de Latour (1704-1788).
Pleynet mostrou em slides telas de Latour. O que interessava a Matisse nelas, segundo ele, era a "variedade de sorrisos". Sorrisos aproximativos, afetuosos. "Aquilo evocava um ambiente familiar para Matisse", afirmou Pleynet.
E Matisse copiava telas de outros pintores do século 18 francês, disse Pleynet, como Chardin e Fragonard. O período era para ele de uma doçura de vida inigualável.
Esse mesmo prazer e tranquilidade se vêem em sua obra. "Matisse chamou uma de suas telas de `Luxo, Calma e Voluptuosidade' não à toa", disse Pleynet. "Esse é o programa central de sua arte."
Para o crítico francês, tal programa se reflete na sua obra pelo que chamou em sua conferência de "espaço aproximado". "Matisse diminuiu a distância entre o artista e o objeto", disse.
"Para conseguir isso", continuou, "ele tentou traduzir o estado de euforia que sentia diante do mundo. E o fez por meio de uma inteligência da sensualidade."
Essa inteligência se manifesta na composição em torno de motivos circulares (como em "Le Bonheur de Vivre" e "A Dança"), que alternam forma e fundo, rompendo a hierarquia tradicional.
"Esse sentimento do espaço", concluiu Pleynet, "constitui o pensamento plástico de Matisse."
A conclusão de Pleynet foi ilustrada com slide da tela "O Ateliê Vermelho" (1948).
O quadro mostra o ateliê do artista com algumas de suas telas penduradas ou encostadas nas paredes. Tudo é banhado por um vermelho vibrante.
Para Pleynet, o vermelho estabelece ali um "espaço cósmico", onde a arte é feita da alegria de viver.

Título: Artepensamento
Hoje: "Barnett Newman - O que é Pintar", do professor Carlos Zílio
Onde: Museu de Arte de São Paulo (av. Paulista, 1578, tel. 011/256-5144, região central)
Entrada: não-inscritos podem assistir por telão no lado de fora do auditório

Texto Anterior: Rede Record contrata a jornalista Alice-Maria
Próximo Texto: Chesky traz seus chorinhos de Nova York
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.