São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 1994
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Colonos judeus são o maior obstáculo

ROBERT MAHONEY
DA "REUTER", EM JERUSALÉM

Enquanto o secretário norte-americano de Estado, Warren Christopher, parabenizava os palestinos em Jericó, conflitos entre israelenses e árabes em Hebron mostraram que há uma bomba-relógio plantada embaixo da experiência do autogoverno palestino: as colônias judaicas.
Para fechar o acordo de autonomia, o primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin e o líder da OLP, Iasser Arafat, concordaram em adiar conclusões sobre o futuro dos mais de 100 mil colonos judeus na Cisjordânia e na faixa de Gaza.
As negociações sobre os colonos judeus e outro ponto que tem potencial para acabar com o acordo, o status de Jerusalém, foram adiadas por pelo menos dois anos, na esperança de que até lá a autonomia esteja funcionando bem e tenha aliviado as tensões.
As imagens de soldados israelenses deixando as bases em Gaza e Jericó elevaram os ânimos.
Mas elas não demoraram a ser seguidas pelas cenas de violência que vêm caracterizando o levante palestino, que já dura seis anos.
Cerca de 30 colonos armados marchando pelas ruas de Hebron, na segunda-feira, desencadearam conflitos em que colonos e soldados feriram 18 palestinos.
Algumas horas mais tarde, militantes muçulmanos do Hamas mataram dois israelenses a tiros e feriram outro perto de uma colônia judaica ao sul de Hebron.
Em Nablus, na outra extremidade da Cisjordânia, colonos judeus atiraram e mataram um palestino.
Radicais judeus e muçulmanos convergem em sua oposição ao acordo Israel-OLP de autonomia.
Os judeus acham que Cisjordânia e Gaza fazem parte da terra que Deus deu aos judeus, Israel. Os muçulmanos acham que Israel está ocupando terras deles.
Em lugar de fazerem frente a este conflito fundamental, Rabin e Arafat preferiram deixar sua Declaração de Princípio vaga.
Após retirada de Gaza e Jericó, o Exército de Israel deve se "reposicionar fora das áreas povoadas".
"Por um lado nós nos comprometemos a entregar território e nos retirar, e por outro, por razões políticas israelenses internas, exigimos que as colônias permaneçam e que os colonos tenham o direito de deslocar-se livremente, com a proteção do Exército", diz Joseph Alpher, diretor do Centro Jaffee de Estudos Estratégicos, em Israel.
Não existem colônias judaicas no encrave de Jericó, apenas uma sinagoga. Mas os colonos que oram ali portam armas desde sexta-feira, desafiando o acordo.
Esse desafio talvez seja um mau augúrio para o resto da Cisjordânia, repleta de colônias judaicas.

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