São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 1994
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Coligação quer que governo adie medidas impopulares

Para ACM, plano pode sepultar candidatura de FHC

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O comando de campanha de Fernando Henrique Cardoso pressiona o governo para que sejam adiadas medidas impopulares de combate à inflação.
Um dos defensores da providência é o ex-governador Antônio Carlos Magalhães, maior cacique do PFL, partido que se uniu ao PSDB de FHC.
Em diálogos reservados, ACM diz: "O plano econômico pode ser o grande cabo eleitoral de Fernando Henrique, mas também pode sepultar a sua candidatura".
As preocupações de ACM são compartilhadas por estrelas do PSDB, entre elas Tasso Jereissati, um dos integrantes do primeiro escalão da campanha tucana.
Teme-se que, sob o comando de Rubens Ricupero, a equipe econômica adote medidas como a limitação do crédito ou cortes bruscos de gastos públicos.
As medidas viriam após a adoção da nova moeda, o real, em 1º de julho. Parte da equipe econômica as considera essenciais para assegurar a sobrevida do plano depois da eleição.
ACM diz aos aliados que o plano precisa ser administrado "politicamente". A estratégia, segundo o seu raciocínio, seria um grande negócio também para Itamar Franco.
"Com poucos meses de mandato pela frente, ele (o presidente) não vai querer baixar medidas impopulares", diz. "É melhor sair sob aplausos do que sob vaias".
O ex-governador esteve ontem com Rubens Ricupero, no Palácio do Planalto. A conversa foi presenciada apenas por Henrique Hargreaves, chefe do Gabinete Civil.
Em sua passagem por Brasília, para participar da convenção do PFL, ACM derramou uma montanha de reclamações sobre o PSDB. Reunido com o staff tucano, anteontem, bateu duro.
Disse que a campanha precisava ser totalmente alterada. Ontem, em diálogos com correligionários, referia-se ao PSDB de forma pouco amistosa.
"Aquilo não é um partido, é um diretório acadêmico de má qualidade", dizia, sem meias palavras.
"Quando sentamos para discutir, estamos de acordo, mas na hora de agir as coisas não caminham. Precisamos de um rei", completou, referindo-se a Fernando Henrique.
Na sua opinião, cabe a FHC tomar as iniciativas. "Ele deve esquecer os partidos e agir. Quem tem partido é o PT. Assim mesmo não valeria nada não fosse pelos sindicatos".
A irritação de ACM aumentou desde o último sábado, quando a nata do PFL foi vaiada na convenção do PSDB, em Contagem (MG).
Ontem, o filho de ACM, deputado Luís Eduardo Magalhães, brincava com o senador Marco Maciel. Os dois estiveram em Contagem.
"O Marco foi tão bem recebido que queria ficar em Minas até segunda-feira", ironizou. "Me agarrei ao José Eduardo (Andrade Vieira, do PTB), o único que tinha avião próprio", disse Maciel, aos risos.
Sensibilizado com as críticas que vem recebendo dos aliados, FHC está se esforçando para mudar o tom de seu discurso. Quer adotar três bandeiras: casa, comida e emprego.
Quanto ao PFL, chegou a arrepender-se da aliança, mas a considera um fato consumado. Decidiu dar de ombros para as críticas.

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