São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 1994
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Palmeira diz não temer Lula e quer Sarney

TALES FARIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ele diz que não queria ser vice e até propôs, para a revisão constitucional, uma emenda acabando com os vices na Presidência.
Apesar de ter em tão pouca consideração o cargo, o senador Guilherme Palmeira (PFL-AL) foi homologado ontem, na convenção do seu partido, o vice de FHC na corrida à Presidência.
O senador se mostra pouco assustado com os indíces de Lula, do PT (mais de 40%), nas pesquisas. Para ele, a explicação é que Lula está há muito tempo em campanha e "só agora nossa campanha começou". Palmeira quer José Sarney como aliado. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Folha – A aliança PSDB-PFL-PTB é responsável pela queda da candidatura FHC nas pesquisas de intenção de voto para presidente?
Guilherme Palmeira – Não acho. Penso que se está perdendo muito tempo com esse assunto. Eu tenho uma avaliação mais otimista.
Só agora nossa campanha começou, enquanto o candidato do PT (Luiz Inácio Lula da Silva) já estava há muito tempo na rua. Daqui para a frente a tendência é só melhorarmos.
Folha – O sr. é irmão do deputado Vladimir Palmeira (PT-RJ). Como explica terem concepções políticas tão diferentes? Como é a relação de vocês?
Palmeira – Meu pai, Rui Palmeira, foi senador e fundador da UDN. Um político que criou seus filhos com abertura e muitos livros para que cada um seguisse o caminho que preferisse.
Pensamos diferente, mas temos um convívio bastante fraterno. É claro que evitamos discutir política. Mas nunca saiu tapa quando discutimos o assunto.
Folha – O sr. perdeu para Fernando Collor a eleição de 86 para governador de Alagoas. É verdade que o sr. era seu padrinho e conselheiro político?
Palmeira – Se eu fosse seu conselheiro, ele não teria feito o que fez e nem chegado à situação atual. Realmente fui eu, quando governador de Alagoas, quem o nomeou prefeito de Maceió. Mas depois rompemos.
Folha – Desculpe a pergunta, mas o sr. tem fama de alcóolatra...
Palmeira – Já li alguma coisa sobre isso. É horrível. Meu filho me perguntou: "O que é isso, pai? Nunca o vi bêbado." O problema é outro.
Sofri uma queda na infância e fiquei com as pernas fracas. Puxo da perna, sou trôpego, mas não por causa da bebida.
Folha – O Brasil viu, em pouco tempo, dois vices assumirem o governo: o atual presidente Itamar Franco e o ex-presidente José Sarney. O sr. está pronto para governar?
Palmeira – Fui um dos maiores governadores de Alagoas. Mas acho que o país está cansado de vices. Eu mesmo sou contra a existência do vice. E Deus fará com que nada ocorra a FHC. Ele tem muito boa saúde e excelentes idéias para governar.
Agora, não sou homem de renúncia. Numa hipótese remota dessas, que creio que jamais ocorrerá, cumprirei a Constituição.
Folha – Mas o sr. é muito amigo de Sarney. Não abriria mão da vaga de vice para ele?
Palmeira – Eu não queria ser vice. Quem quer ser vice é o diabo. Esse sempre foi vice de Deus. Mas fui escolhido e não vejo razão para abrir mão para ninguém.
Nem acho que Sarney aceitaria ser vice. Ele já foi presidente. O que eu senti dele é que ele quis mostrar que o povo o respeita, que ele é um político de prestígio. E isso todos hoje reconhecem.
Acho que o PMDB o preteriu, nas prévias, por uma decisão cartorial em favor de Orestes Quércia.
Eu conto que Sarney virá para o nosso lado. Seus filhos já são do PFL e nesta coligação com o PSDB ele só encontrará quem o respeite.

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