São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 1994
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Governo evita votar o plano, acusa PMDB

REGINA ALVAREZ; VIVALDO DE SOUSA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo foi acusado ontem por lideranças do PMDB de não querer de fato votar a medida provisória 482, que cria a URV (Unidade Real de Valor).
A votação, previa-se, deveria ocorrer por volta de 22h, dependendo do término do julgamento da cassação do deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS).
A principal crítica é em relação à postura do líder do governo na Câmara, Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), que propôs por várias vezes o adiamento da votação da MP, quando outras lideranças avaliavam que o governo teria condições de aprovar a medida.
O líder, comentavam alguns parlamentares peemedebistas, fez "corpo mole" no trabalho de mobilização das bancadas e assumiu uma postura medrosa diante da obstrução dos pequenos partidos e da bancada ruralista.
A bancada ruralista é formada por cerca e 130 parlamentares de diferentes partidos que votam normalmente coesos em assuntos de interesse do setor.
Os ruralistas vão tentar mudar o artigo 16 da MP em plenário. Este artigo trata do "casamento" da correção monetária dos financiamentos agrícolas e dos preços mínimos dos produtos.
O acordo em relação às dívidas financeiras antigas do setor deverá ser fechado hoje pela manhã.
A dúvida sobre o efetivo interesse do governo em votar a medida não se restringe ao PMDB. O deputado Francisco Dornelles (PPR-RJ) acha que o governo quer reeditar a MP e provalvemente incluir nela algum novo ponto, antes da criação do real.
Os peemedebistas avaliam que o governo poderia ter aprovado a MP na terça-feira à noite, após o julgamento do deputado João de Deus (PPR-RS).
O líder Luiz Carlos Santos se defende, afirmando que a decisão de não votar foi do presidente da Câmara, Inocêncio Oliveira.
Os parlamentares ligados a Quércia acham que a indecisão do governo prejudica o PMDB, pois a idéia passada à sociedade é de que o partido obstrui a votação.
Para o deputado Roberto Rolemberg (PMDB-SP), o governo estaria buscando no Congresso uma desculpa para justificar o fracasso do plano.
Luiz Roberto Ponte (PMDB-RS), aliado do governo, também se mostrava surpreso: "Não há risco de a medida não ser aprovada. Basta colocá-la em votação", afirmou.
Santos rebate as críticas e diz que o governo tem tentado votar a MP desde o dia em que ela foi aprovada na Comissão Especial, mas sofreu obstrução do PT.
Além disso, alega que continuam as negociações em torno da MP com os representantes dos trabalhadores e dos ruralistas.
As negociações não haviam avançado até as 20 horas. O PT continuava com a posição de obstruir a votação e os ruralistas estavam divididos.

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