São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 1994
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EUA querem regras no mercado futuro

FERNANDO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Congresso dos EUA divulgou ontem um estudo propondo mais regras para os mercados de futuros. Trata-se de um setor da economia mundial que movimenta cerca de US$ 16 trilhões por ano.
Os norte-americanos querem regulamentar os produtos derivados do mercado de futuros. São os chamados derivativos. Por exemplo, o contrato de compra ou venda de uma moeda ou de um determinado produto agrícola no futuro.
O mercado de derivativos cresce sem parar e não tem regras claras. Além disso, trata-se de um comércio globalizado. As operações não se restringem a um único país.
Em Londres, no final do ano passado, eram celebrados em média 450 mil contratos de derivativos por dia. Este ano, a média diária já pulou para 750 mil.
O Congresso dos EUA ficou dois anos estudando o assunto. O relatório final tem 196 páginas. O temor dos congressistas é que o comércio desenfreado de derivativos possa causar um colapso no sistema bancário.
Já há vários exemplos de perdas financeiras por causa de derivativos. A Procter & Gamble, multinacional fabricante de produtos alimentícios e de higiene e limpeza, perdeu US$ 102 milhões. A Kashima Oil, empresa japonesa, teve prejuízo de US$ 1,5 bilhão.
A Procter & Gamble perdeu apostando errado na evolução das taxas de juros. A Kashima Oil errou na hora de fazer uma previsão sobre o comportamento das taxas de câmbio do dólar e do iene.
Segundo o relatório do Congresso norte-americano, nos EUA o comércio de derivativos está concentrado nas mãos de 15 grandes firmas. Estão todas ligadas por causa dessas operações.
"Uma falha inesperada ou saída abrupta do mercado de um desses grandes operadores pode causar problemas de liquidez nos mercados e poderia também representar riscos para os outros (não envolvidos)", afirma o relatório.
Além de sugerir uma reavaliação completa das leis que regem o mercado de derivativos, o relatório do Congresso pede especial atenção para operações de empresas de seguros e corretoras –que operam livres de qualquer tipo de regra.
Uma das alternativas, sugere o relatório, seria atribuir à Securities and Exchange Commission (SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) o poder de fiscalizar o mercado de derivativos.
Outra possibilidade seria dividir a função de fiscalização entre diversas agências governamentais. A divisão seria de acordo com a especialidade de cada agência –uma vez que o mercado é vasto e abrange desde moedas e taxas de juros até commodities.
Não há prazo para que essas mudanças no mercado sejam realizadas. Depende dos deputados.
Em resumo, são as seguintes as sugestões do relatório: 1) tentar junto ao mercado a adoção de uma operação padronizada de compra e venda de derivativos; 2) criar um banco de dados centralizado sobre todas as operações; 3) avaliar anualmente a qualidade do sistema de gerenciamento de risco dos operadores do mercado; 4) enfatizar a necessidade de harmonizar as regras para abertura dos números referentes ao mercado.

Com agências internacionais

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