São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 1994
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A jogada de Fernando Henrique

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Só existe uma chance de a candidatura Fernando Henrique Cardoso decolar: os eleitores começarem a gostar do Plano Real. Daí a esperta jogada de desafiar Luiz Inácio Lula da Silva para um debate sobre o plano de combate à inflação.
É uma jogada esperta por quatro motivos: 1) Fernando Henrique quer se fixar como anti-Lula; 2) o desafio ajuda a atá-lo ao Plano Real diante da opinião pública; 3) se Lula aceita, abre espaço e um gigantesco palanque eletrônico para seu maior rival; 4) se recusa, como recusou, dá pretexto a seus adversários para acusarem-no de inconsistente, "fugindo" do debate.
O comando dos tucanos jogou todas as fichas no Plano Real –eles têm pesquisas mostrando que uma fatia do eleitorado se voltaria para FHC com a queda da inflação, principalmente nas camadas mais pobres. Faz parte da estratégia do governo badalar o plano pelos meios de comunicação, anunciando a inflação próxima de zero.
Detalhe: apenas o plano não serve para eleger o ex-ministro. Mas o fracasso serve para destruí-lo. Não é coincidência que sua queda de popularidade ocorra junto com a redução de apoio do plano na opinião pública, conforme revelou ontem pesquisa do Datafolha.
Compreensível: até agora, o cidadão apenas viu a inflação subir –e muito. Mas, mesmo que baixe a inflação, uma coisa é certa: pode até eleger Fernando Henrique. Mas, por enquanto, é apenas (e com boa vontade) um remendo. É capaz de resolver a vida de um candidato e seu partido. Mas não do país.
PS – É uma história que merece entrar na coletânea nacional de absurdos do serviço público. A Prefeitura de São Paulo, durante gestão do PT, comprou toneladas de carne de "primeira" para merenda escolar. Veio um produto de baixa qualidade e os alunos reclamaram. A carne acaba de ser doada aos animais do zoológico. Colocassem a mais humilde dona de casa para fiscalizar a compra, esse desperdício jamais teria acontecido. Afinal, não poucos servidores públicos imaginam que o cidadão merece o mesmo tratamento dos animais.

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