São Paulo, sexta-feira, 20 de maio de 1994
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CPI aprova relatório sem nome de Tuma

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI da Previdência retirou de seu relatório final, aprovado pela maioria dos parlamentares da comissão, as acusações contra o delegado Romeu Tuma, ex-diretor da Polícia Federal.
Os 12 integrantes da comissão –menos a relatora, deputada Cidinha Campos (PDT-RJ)– exigiram a supressão do nome de Tuma para que o relatório fosse aprovado ontem.
Para o deputado Agostinho Valente (PT-MG), "Tuma não foi chamado para se defender e só isso basta para não poder acusá-lo."
Tuma era acusado no relatório de colaborar com o esquema de corrupção no INSS à época de sua gestão como secretário da Receita Federal e diretor da PF (ele acumulou os cargos).
Ele teria recebido 129 ligações telefônicas de Paulo Sawaya Filho, sócio do argentino César Arrieta, considerado chefe da rede de fraudes da Previdência.
Ex-empregados de Arrieta, os irmãos Nilson e Wilson Tavares, disseram à CPI ter presenciado o chefe pagar hospedagem de Tuma no hotel Mediterranée, em Salvador (BA).
O deputado Robson Tuma (PL-SP), filho do delegado, disse que Sawaya é amigo da família há mais de 30 anos. Ele afirmou que seu pai jamais esteve no Mediterranée e desafiou a CPI a apresentar o registro de hospedagem.
Arrieta fraudava a Previdência com a ajuda de juízes, funcionários, secretárias e procuradores do INSS. O relatório da CPI cita 470 pessoas e envolve 200 nas irregularidades.
A fraude mais comum era apagar do arquivo dos computadores da Dataprev (empresa de processamento de dados da Previdência) o nome de empresas devedoras do INSS. Em troca, exigia cerca de 80% do valor da dívida em propinas.
Rombo
O rombo na Previdência foi estimado em US$ 3 bilhões. As irregularidades teriam começado em 1989. Arrieta declara à Receita Federal ter recebido, em 91 e 92, US$ 24 mil. A quebra de seu sigilo bancário provou a movimentação de US$ 300 milhões naquele período.
O ex-presidente Fernando Collor foi citado no relatório. Ele teria facilitado a ação do esquema ao demitir cerca de 3.500 fiscais em 1990. Collor nega as acusações.
As denúncias contra o ex-ministro da Infra-estrutura João Santana foram mantidas. Santana teria recebido 18 ligações do esquema Arrieta e seria padrinho da filha do argentino.
Santana disse à Folha que sequer conhece Arrieta e jamais esteve em sua companhia.
O relatório deve ser entregue à mesa da Câmara na segunda-feira e até o final da próxima semana ao procurador-geral da República, Aristides Junqueira. Ele decide se oferece ou não denúncia contra os acusados.

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