São Paulo, sexta-feira, 20 de maio de 1994
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Cameristas da Sinfônica de Boston se aproximam da excelência técnica

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os 11 cameristas do The Boston Symphony Chamber Players dosaram equilíbrio, técnica e lirismo ao se apresentarem, em São Paulo, no mosteiro de São Bento.
Deram também uma demonstração de que é cada vez mais fora da Europa que conjuntos de solistas hoje definem o padrão interpretativo de excelência.
As duas apresentações, quarta-feira e ontem, tiveram um único e grande inconveniente: não foram abertas ao público.
Os 1.600 convites foram distribuídos para um grupo privilegiado de clientes do Banco de Boston, patrocinador do evento.
Com um programa composto por Haendel (1685-1759), Brahms (1833-1897) e Stravinski (1882-1971), os músicos demonstraram ser melhores que a orquestra da qual se originam.
A Sinfônica de Boston, com seu diretor musical, Seiji Ozawa, perdeu seu antigo espaço no conjunto das orquestras norte-americanas.
San Francisco e até a há pouco ignorada Saint Louis possuem reconhecidamente uma melhor sonoridade e enveredam, de maneira mais homogênea, pelo repertório "must" do século 19.
O The Boston Symphony Chamber Players é antes de mais nada uma gravitação em torno do primeiro violino Malcolm Lowe.
É um instrumentista que cresce em direção ao tamanho artístico de um Norbert Brainon, do Quarteto Amadeus, ou de um Menahem Pressler, do Trio Beaux Arts.
Ele deu de início um pequeno susto ao solar, com a violista Rebecca Young (excelente), a passacalha da "Suite nº 7 em sol menor", de Haendel.
Foi uma transcrição recente, que procura obliterar as raízes barrocas da partitura e "paganinizá-la" como exibição de virtuosismo.
Mas na peça seguinte, a "História do Soldado", de Stravinski, à frente de seis outros solistas, Lowe escapou de todas as armadilhas que poderiam tê-lo aproximado de um histriônico vulgar.
A peça, de 1918, é de interpretação dificílima porque a excelência está no caminho estreito que separa a ênfase nas dissonâncias e a gozação à empolação "savante" do romantismo.
Os cameristas, especialmente a clarineta de Thomas Martin e a percussão de Everett Firth, atravessam o desafio com uma admirável felicidade.
Por fim, com o "Quinteto para piano e cordas em fá menor", opus 34, de Brahms, os músicos forneceram uma versão encorpada que a acústica do mosteiro amplificava deliciosamente.
Não há nenhum sentimentalismo excessivo que por vezes estraga o segundo movimento, um "Andante, un poco adagio", nem a frieza robótica que a aparição do CD tenta impor como sinônimo de competência.
Em suma, um Brahms que o próprio Johannes Brahms gostaria de ter ouvido.

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