São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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Sem-terra pretendem eleger 8 deputados

GUSTAVO KRIEGER; AMÉRICO MARTINS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

AMÉRICO MARTINS
O MST (Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) quer direcionar pelo menos um milhão de votos a Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Espera eleger também oito deputados federais e 20 estaduais em todo o país. O MST decidiu apoiar Lula durante congresso realizado no fim de 93, em Salvador.
Em troca do apoio, o MST exige que Lula, caso seja eleito, inicie imediatamente um programa de reforma agrária radical.
Lula já recebeu uma pauta de exigências dos sem-terra, que deveria ser cumprida no início do governo, como sinal de interesse político em fazer a reforma agrária.
Esta pauta exige a regulamentação imediata da situação de 16,6 mil famílias que estão em acampamentos, áreas invadidas ou em locais que ainda não têm o título de posse definitiva.
Gilmar Mauro, um dos coordenadores nacionais do movimento, afirma que Lula "pode ter problemas" caso não demonstre rapidamente a vontade de fazer desapropriações.
Segundo Mauro, a situação no campo "é de gravidade máxima" e a reforma agrária é "prioritária". Ele disse que o movimento ainda vai discutir prazos para o novo governo manifestar suas intenções com relação ao problema.
Caso Lula não atenda as exigências, os sem-terra pretendem mobilizar cerca de 50 mil famílias para novas invasões.
A maior parte das áreas invadidas será de propriedade do governo federal. O MST aposta que Lula não terá "vontade política" para desapropriar essas áreas.
Até o final de julho, os sem-terra vão continuar organizando invasões. O objetivo é fazer com que os candidatos à Presidência e aos governos estaduais assumam compromissos com a reforma agrária.
Na segunda fase da campanha, vão diminuir o ritmo das invasões. Eles assumiram este compromisso com o PT, porque Lula teme que sua candidatura seja prejudicada se os conflitos no campo crescerem.
O MST gaúcho vai apoiar o candidato petista ao governo, Olívio Dutra, formalizando um acordo em todas as instâncias com o PT.
Em São Paulo, os sem-terra apóiam Lula para presidente, mas não fecharam com o candidato do PT ao governo, José Dirceu.
Os sem-terra de São Paulo devem apoiar quatro candidatos a deputado estadual. Dois são do PT, um do PC do B (que apóia Lula) e outro do PMDB. Eles esperam eleger deputados também em Santa Catarina, Paraná, Pará, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia.
Lobistas
Hoje os sem-terra têm uma bancada com cinco deputados federais, todos do PT –um deles o gaúcho Adão Preto (RS). Minoritários no Congresso, onde os fazendeiros contabilizam uma bancada de 130 parlamentares, os deputados eleitos pelos sem-terra atuam como lobistas, pressionando o governo.
Os sem-terra são uma corrente forte no PT. Segundo José Graziano da Silva, coordenador do capítulo de reforma agrária do programa de governo de Lula, a Secretaria Agrária do partido propôs o assentamento de 800 mil famílias.
A meta pressupõe a desapropriação de 160 mil quilômetros quadrados, equivalentes a 5,5 vezes a área do Estado de Alagoas.

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