São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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Valorização imobiliária pode atingir até 400%

LUIZ HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

A extensão da avenida Faria Lima e a consequente permissão para construir prédios residenciais e de escritórios deve valorizar o metro quadrado da região em até 400%.
A estimativa é da multinacional Mackenzie Hill, especializada em consultoria imobiliária.
A valorização dos terrenos não será uniforme. Em algumas regiões da Vila Olímpia, por exemplo, deve ser de apenas 10%.
Esta expectativa de valorização não vai causar uma explosão no mercado imobiliário, segundo especialistas ouvidos pela Folha.
A crise econômica do país e a grande oferta de escritórios no mercado deve colocar as mudanças nos bairros em marcha lenta.
Segundo o diretor de operações da Mackenzie Hill, Paulo Henrique Câmara, a maior valorização deve acontecer na região residencial de Pinheiros, onde se encontra o metro quadrado mais barato entre as áreas atingidas.
A área de Pinheiros abrangida pelo projeto é dominada por velhos sobrados. O metro quadrado na região custa cerca de U$ 1 mil.
Segundo Câmara, um terreno não construído na Faria Lima custa US$ 5 mil por metro quadrado.
Na região da Vila Olímpia, a valorização dos terrenos será menor. A zona é de residências de luxo, mais valorizada que Pinheiros. A previsão é de que os terrenos devam atingir 25% de valorização.
Na área onde já é permitido ter escritórios na Vila Olímpia, a valorização deve ser de apenas 10%. Hoje, o metro quadrado de escritórios ali custa US$ 2,4 mil. Na Faria Lima, custa US$ 2,6 mil. Os valores tendem a se equiparar.
Caso haja uma estabilização da economia, a valorização pode ser ainda maior, uma vez que, desde o Plano Collor (1990), o preço do metro quadrado despencou.
Em 1990, por exemplo, o metro quadrado na Faria Lima custava US$ 3,6 mil, 28% a mais.
O metro quadrado mais caro da cidade para escritórios ainda é a avenida Paulista. Ele custa US$ 3,6 mil. Antes do Plano Collor custava US$ 4,7 mil.
Hoje, a cidade de São Paulo tem cinco milhões de metros quadrados de escritórios.
Na Faria Lima, se concentram 265 mil metros, ou 5% do total. Desses, 7%, ou 18 mil metros, estão vazios. "Se a avenida tiver sua extensão dobrada, o crescimento do número de escritórios será de, no máximo, 5%, o que não será nenhum trauma", diz Câmara.
O mercado não vai absorver a curto prazo novos escritórios. Na região da marginal Pinheiros, 24% da área total de escritórios está esperando por compradores.
Para o diretor-superintendente da construtora Encol, Dolzonan da Cunha Mattos, o número de novos empreendimentos residenciais com a mudança deve ser maior do que os comerciais. "Há sobra de escritórios disponíveis em São Paulo, mas faltam residências", diz ele.
Mattos lembra que a região de Pinheiros e Vila Olímpia tem toda a infra-estrutura necessária já instalada. "São bairro bastante procurados pela classe média, por serem próximos de muitos escritórios e shopping centers", diz.
O diretor comercial da construtora Cirella, Eduardo Coelho Pinto de Almeida, também aposta nos empreendimentos residenciais.
"Em Pinheiros e na Vila Olímpia moram muitos executivos. O potencial imobiliário na região é riquíssimo", afirma.
Quanto a prédios comerciais, Coelho vê dificuldades. "Existem muitos shoppings na região."
O engenheiro João Freire D'Ávila Neto, sócio da consultoria imobiliária Amaral D'Ávila Engenharia de Avaliações, é pessimista quanto à extensão da Faria Lima.
"Estão vendendo o projeto como se fosse o mapa da mina, desenvolvendo a expectativa do mercado, e isso se chama especulação", diz D'Ávila. Para ele, a região "já está saturada".
D'Ávila lembra que, depois do Plano Collor, a maioria das empresas "enxugou" seus quadros. "Todas as empresas cortaram funcionários, diminuindo a necessidade de espaço".
Quanto à construção de prédios residenciais, D'Ávila também não é otimista. "A interligação dos corredores comerciais vai ser ultrabarulhenta, descaracterizada como área para morar", diz.
Ele compara o que pode acontecer na nova Faria Lima com o que houve em 75, quando a construção do Metrô ampliou a ligação entre a Paulista e a Vergueiro.
"A expectativa era de que a Vergueiro se tornasse uma continuação da Paulista, mas isso não aconteceu", diz. Para ele, a nova Faria Lima será "um corredor comercial frustrado".
(LHA)

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