São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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Tire suas dúvidas sobre a virada para o real

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

As maiores dúvidas dos paulistanos em relação ao Plano Real, colhidas em pesquisa do Datafolha feita no dia 13 de maio, referem-se a preços e salários.
Acompanhe os esclarecimentos das principais questões levantadas pelos 659 entrevistados.
Como ficarão os preços e as tarifas públicas?
Os que já estiverem em URV farão, em 1º de julho, a conversão para a nova moeda. Uma URV valerá um real. Os preços que estiverem em cruzeiros reais serão convertidos para real porque esta será a moeda corrente no país. Mas os preços não serão congelados.
Como ficarão os salários?
Todos já estão em URV e, portanto, serão automaticamente convertidos para real. Quem ganha 1.000 URVs ganhará 1.000 reais.
O projeto da URV prevê que, na primeira data-base após 1º de julho, inclusive, será feita a média em URV ou equivalente em URV dos últimos 12 meses. Eventual diferença positiva em relação ao salário efetivo em URV (média de 4 meses) será reposta.
Na data-base será feito outro recálculo, para março/junho, comparando-se o salário efetivo em URV com os salários hipotéticos do período, corrigidos pela antiga política salarial e convertidos para URV. Eventual perda será reposta.
Como é feita a conversão de URV para cruzeiro real?
Multiplicando-se o número de URV pelo seu valor em cruzeiros reais na data da conversão ou pelo valor da URV de outra data anterior. Há lojas que, para a conversão, usam o mesmo valor de URV durante toda uma semana.
Por que os preços e tarifas sobem e os salários não acompanham?
Não é verdade. Desde que os salários foram urvizados, eles têm correção até o dia do pagamento. Alguns preços podem subir acima e outros abaixo da URV.
Haverá estabilização econômica?
Há consenso de que a inflação baixará abruptamente na virada para o real. A dúvida é se a inflação se manterá baixa por muito tempo.
Como a URV é calculada? Como varia de um dia para outro?
A variação da URV baseia-se em três índices de inflação: IGP-M, IPCA Especial e IPC da Fipe (terceira quadrissemana). O valor da URV no último dia útil de um mês é fixado com base num ponto intermediário entre os três índices. Enquanto esses índices não são "fechados" para o mês, o Banco Central vai calibrando dia-a-dia os valores da URV conforme as informações que recebe dos institutos de pesquisa (Fundação Getúlio Vargas, IBGE e Fipe).
Como fazer o cálculo do preço de um produto em URV?
O preço em URV é fixado pelas empresas, de acordo com seus próprios critérios de custo, margem de lucro e impostos. O consumidor conhece o preço em cruzeiros reais multiplicando o valor em URV pelo valor desta em determinado dia.
Como vai ficar o aluguel?
O governo deve editar, ainda este mês, um critério de conversão obrigatória para URV dos contratos residenciais assinados antes de 15/3/94. A fórmula ainda não está definida. Pode ser pela média dos quatro ou seis meses a partir do último reajuste. Contratos já renegociados para a URV ficam como estão.
Como vão ficar as aplicações financeiras?
Não haverá confisco ou tablitas. O rendimento nominal vai cair porque a inflação será bem baixa. O juro real (acima da inflação) deve até subir na fase inicial da nova moeda. As contas de poupança de 1º de julho em diante terão rendimento declinante, dia após dia, porque vão refletir a queda da inflação.
Qual a diferença do dólar para a URV?
Os valores do dólar comercial seguem atualmente os da URV. Os do "black" variam um pouco, para cima ou para baixo. Têm ficado abaixo do dólar comercial. A partir de 30 de junho, por prazo ainda indeterminado, o dólar comercial deve ficar congelado.
Como ficarão as compras com cheques pré-datados e com cartão?
Haverá um prazo, após 1º de julho, para compensação de cheques em cruzeiros reais. O banco fará a conversão de cruzeiros reais para a nova moeda.
Cheques pré-datados devem ser evitados porque embutem expectativa de inflação que pode não se concretizar.
As faturas de cartão de crédito já estão em URV e as que vencerem após 1º de julho serão liquidadas em real, na paridade 1 URV = 1 real.
Para que foi inventada a URV?
Para dar um parâmetro único de reajuste aos preços e salários. Facilita a quebra da inflação inercial (ciranda de aumentos gerando aumentos) sem a necessidade do congelamento de outros choques.
Os empresários vão cooperar e respeitar o plano?
Publicamente dizem que sim. Na prática, é esperar para ver. Houve empresas que aproveitaram a conversão em URV para elevar a margem de lucro. O governo diz ter instrumentos (como a redução de alíquotas de importação) para inibir aumentos considerados abusivos, mas nega que vá congelar preços.
O plano vai beneficiar os ricos ou os pobres?
Se a inflação cair e permanecer baixa, os mais pobres serão beneficiados porque hoje, depois de recebido o salário, o dinheiro em geral fica no bolso do trabalhador, exposto à corrosão inflacionária, dia-a-dia. Os mais ricos se protegem da inflação aplicando todo ele no mercado financeiro.
(GJC)

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