São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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Hortência e Paula preparam despedida

EDGARD ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

As duas principais estrelas da história do basquete brasileiro, a ala Hortência e a armadora Paula, defendem a seleção nacional pela última vez no Mundial da Austrália, a partir de 2 de junho.
Pelo menos foi isso que ambas afirmaram, por telefone, na última quarta-feira, véspera do embarque da delegação para a Austrália.
Elas chegaram à seleção em junho de 1976. Nunca mais saíram.
Hortência (34 anos e 1,74 m) jogou pelo Brasil 281 vezes e Paula (32 anos e 1,74 m), 291 partidas.
Disputaram uma Olimpíada, quatro Mundiais, quatro Pan-americanos e duas Copas das Américas
Obtiveram títulos, como a vitória nos Pan-americanos de Havana-91. E amargaram tristezas por nunca terem ganho medalha em Mundial e Olimpíada.
Em compensação, comemoraram a conquista do direito de participar pela primeira vez dos Jogos Olímpicos, em Barcelona-92.
Em junho jogam a cartada final.

Folha - A seleção está no ponto ideal para a estréia?
Hortência de Fátima Marcari Oliva - Não, mas estará. Lá, é que interessa. Agora não é hora.
Maria Paula Gonçalves da Silva - Ainda falta um pouco. Temos 15 dias para acertar tudo.
Folha - Os treinamentos foram suficientes para uma boa participação no Mundial?
Hortência - As jogadoras já se conhecem. Muito tempo não adiantaria nada. Foi suficiente.
Paula - Foram quase dois meses, proveitosos, especialmente pelo desempenho e seriedade.
Folha - Faltou alguma coisa?
Hortência - Em termos de estrutura, tivemos tudo.
Paula - Sempre falta alguma coisa. Os testes, por exemplo, foram feitos praticamente contra uma escola, a do basquete cubano. Não sabemos como andam nossas adversárias. Em contrapartida, as novatas puderam jogar bastante e ganhar confiança.
Folha - Quais são as forças do Mundial?
Hortência - Indiscutivelmente, a equipe dos EUA. As outras forças mundiais, como a ex-URSS, se dividiram. Vamos ver como estão só durante o campeonato.
Paula - O time dos EUA é o favorito. Na nossa chave, a Eslováquia é forte.
Folha - O Brasil se classifica na primeira fase?
Hortência - Estou confiante. Temos três experientes jogadoras em cima –eu, Paula e Janeth–, a Ruth garante lá embaixo e as novatas vem reagindo bem.
Paula - Temos basquete para isso. Só se não acreditarmos. Vi uma final européia pela TV –Dorna/Espanha x Como/Itália– e confio nas nossas chances.
Folha - É possível melhorar o décimo lugar do último Mundial ou o sétimo da Olimpíada?
Hortência - Tranquilamente. Basta que joguemos como contra Cuba nos recentes amistosos.
Paula - Dá, com certeza. Nunca tivemos tanta chance antes.
Folha - Os amistosos ajudaram na correção de falhas?
Hortência - O time está jogando o que sabe.
Paula - O time cresceu. As novatas ganharam confiança. Foi ótimo nesse sentido.
Folha - Quais foram as principais falhas?
Hortência - A defesa precisa melhorar.
Paula - Nas derrotas houve precipitação e a volta lenta para a defesa. Houve excesso de individualismo. Quando se joga em equipe fica mais fácil.
Folha - E as virtudes? O que o time tem de positivo?
Hortência - Nosso ataque. A inteligência e criatividade das jogadoras. É diferente. Nosso time se adapta fácil ao adversário. Num mesmo ataque em que o adversário muda a defesa, nós percebemos e já fazemos a adaptação. É incrível.
Paula - O equilíbrio no jogo sob a cesta, com a Cíntia e a Alessandra, pouco técnicas, mas que lutam bastante.
Folha - A pivô Marta, que não foi convocada, faz falta?
Hortência - Faz e bastante, sem desmerecer o trabalho de nenhuma das outras jogadoras. Quando está tranquila, a Marta joga muito. É conhecida, temida pelas adversárias, impõe respeito.
Paula - As cubanas perguntavam dela. Faz falta. Precisávamos dela, mas jogando mais embaixo. Tem muito potencial.
Folha - Como está o relacionamento do grupo, comparado ao de seleções passadas?
Hortência - Normal. Nunca houve problema de relacionamento.
Paula - Ótimo, bem legal. Todas conversam, têm respeito.
Folha - A Paula e a Hortência são as mesmas de outros Mundiais?
Hortência - Mais maduras. É meu último Mundial e a última seleção. Não penso mais na Olimpíada.
Paula - A gente leva a sério, tem ritmo. Maior bagagem e isso é importante. Vamos ver lá (Austrália). É minha última seleção. Não vai dar mais, nem Olimpíada. A renovação é importante.
Folha - O desentendimento recente entre a Hortência e a Paula está superado por completo?
Hortência - Houve apenas um mal-entendido. Nunca tive problema com ela. Sempre adorei atuar ao lado da Paula, uma jogadora inteligente.
Paula - Superado. Conversamos normalmente, sem problemas.
Folha - A Paula e a Hortência ganharão a primeira medalha no Mundial, o último da dupla?
Hortência - Medalha é o nosso objetivo. Seria muito legal.
Paula - É o que a gente sempre quis. Chegamos perto naquele Mundial no Brasil (5º em 83). Viajamos pensando no melhor.
Folha - Gostaria de mandar uma mensagem à torcida?
Hortência - Que assista aos jogos e jogue com a gente. Isso dá força, é energia positiva. Vamos estar muito longe.
Paula - Sentimos a energia da torcida na excursão pelo Nordeste. Essa energia está indo junto com a gente. Vamos nos empenhar. Já que acabamos de perder o Senna, que fazia tudo pelo Brasil, vamos tentar trazer uma medalha e dar um pouco de alegria.

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