São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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Dois milênios em duzentas páginas

LUIS S. KRAUSZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Este novo livro do historiador e classicista britânico Michael Grant faz, definitivamente, jus ao título. É preciso ser muito sucinto para resumir, em cerca de 200 páginas, mais de dois milênios de uma história que se desenrolou no território limitado, a leste, pela Índia, a oeste pela Península Ibérica, ao sul pelo Egito e ao norte pelo Danúbio e Grã-Bretanha.
Calcado numa obra anterior do autor, em quatro espessos volumes, oferece um panorama do surgimento, história e decadência das civilizações helênica e romana. História não só política e geográfica, relatando as principais conquistas na esfera da organização do Estado, de sua economia e expansão territorial, mas também cultural: Grant contrapõe ao desenvolvimento social e material o avanço das artes e da cultura, descrevendo os trabalhos dos mais importantes pensadores, escritores e filósofos de cada época, bem como as tendências dominantes nas artes plásticas e arquitetura.
As ressalvas que se pode fazer a este trabalho são sobretudo decorrentes de suas dimensões. Se por um lado ele contém muito do que a natureza fragmentária dos testemunhos da época nos legou, por outro lado falta uma discussão da interpretação que este material exige, mas que muitas vezes fica limitada ao literal: por exemplo, Grant não hesita em afirmar que houve um poeta cego, chamado Homero, provavelmente nascido na ilha de Quios, (versão que aparece no antigo "Hino a Apolo") e que escreveu seus poemas.
Ora, hoje em dia supõe-se que tudo que nos foi legado sob o nome de Homero resulta do trabalho de bardos anônimos e analfabetos, que foram tecendo uma tradição de lendas e narrativa, sempre contadas em verso e com acompanhamento de música, à maneira dos nossos repentistas, e que só posteriormente foram compiladas e registradas de maneira escrita.
Claro que não se pode exigir, aqui, que cada hipótese seja discutida, mas muitas afirmativas categóricas do autor são tema de polêmica entre os estudiosos do assunto. De qualquer maneira, o livro funciona enquanto introdução ao estudo destas civilizações. E também para reavivar a memória de quem as estudou há um certo tempo.

LUÍS KRAUSZ é mestre em letras clássicas pela Universidade da Pensilvânia e pós-graduado pela Universidade de Zurique

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