São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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Um terço das anoréxicas sofreu abuso sexual

DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 30% das mulheres com transtornos alimentares (anorexia e bulimia) sofreram abuso sexual na infância, de acordo com resultados divulgados no início do mês em Nova York.
A anorexia atinge em geral mulheres extremamente magras, muitas vezes desnutridas, que insistem em fazer dietas e jejuns, por acharem que estão muito gordas.
Já a bulimia ocorre em pacientes de peso normal, que fazem dietas interrompidas por episódios de grande voracidade. Depois se sentem culpadas e provocam vômitos.
Os dois transtornos estão relacionados ao padrão de beleza vigente, que valoriza um corpo mais esguio nas mulheres.
A anorexia é diferente de uma simples falta de apetite. "É um desejo voluntário de não comer, acompanhado de uma distorção da própria imagem", diz o psiquiatra Táki Cordás.
Ele é chefe do Ambulim (Ambulatório de Bulimia e Anorexia Nervosa do Hospital das Clínicas), aonde já acorreram cerca de 120 bulímicos e 20 anoréxicos.
O Ambulim foi um dos centros que contribuíram para um estudo apresentado na 5ª Conferência Internacional sobre Transtornos Alimentares, de 29 de abril a 1º de maio em Nova York.
Dados sobre abuso sexual em bulímicas no Brasil, Áustria e Estados Unidos foram centralizados por Harrison Pope, da Escola de Medicina de Harvard.
"Encontramos um pouco mais de abuso sexual infantil no Brasil", diz Cordás. A diferença encontrada, porém, não é estatisticamente significante.
O índice de abuso, entre 24% e 36% nas bulímicas, não é muito diferente do encontrado em outras desordens psiquiátricas. "Mas é significativo", afirma o brasileiro.
O abuso sexual na infância foi avaliado através de questionários.
Cordás admite que pode haver respostas fantasiosas ao questionário, mas ressalta que, ainda assim, os resultados traduzem a realidade.
Outro resultado apresentado no congresso foi um aumento da incidência das desordens alimentares em homens, principalmente nos EUA. "No Brasil isso ainda não foi detectado", diz Cordás.
O tratamento dos distúrbios tem abordagem mista, através de psicoterapia, medicamentos e orientação nutricional.
"Em anoréxicas, o ganho de peso não se negocia", afirma Cordás. Se não acontecer dentro de um período estipulado, o paciente pode ser internado.
"Nas bulímicas, tentamos reduzir o número de episódios de vômitos e alimentação compulsiva."
Após um ano de tratamento no Ambulim, há recuperação em cerca de um terço dos casos, melhora parcial em outro terço e nenhuma melhora no terço restante.
Segundo Cordás, são números compatíveis com os resultados obtidos internacionalmente no tratamento a transtornos alimentares.

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