São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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DOIS POEMAS INÉDITOS

LIÇÕES DE SEVILHA
Tenho Sevilha em minha cama,
eis que Sevilha se fez carne,
eis-me habitando Sevilha
como é impossível de habitar-se

Nada há em volta que me lembre
a Sevilha cartão-postal,
a que é turístico-anedótica
a que é museu e catedral.

Esta é a Sevilha trianera,
Sevilha fundo de quintal,
Sevilha de lençol secando,
a que é corriqueira e normal.

É a Sevilha que há nos seus poços,
se há poço ou não, pouco importa;
a Sevilha que dá às sevilhanas
lições de Sevilha, de fora.

AINDA SEVILHA AO TELEFONE
Quando pelo telefone
quero falar com Sevilha
e Sevilha, por acaso,
está no instante dormida,

deixo aberto o telefone
à concha de voz vazia:
ouço então no telefone
como relógio com vida,

toda uma vida passar
como ácido vivo de ginja.
Ninguém fala ao telefone,
mas há pulsação longínqua;

onde há um pregão de tudo,
onde há pragas de vizinhas,
e se ouve o arfar de cidade
que sabe dormir feminina.

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