São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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Democracia sobrevive na América Latina

DA "FRANCE PRESSE"

A democracia continuou a avançar nos países da América Latina em 1993, apesar das dificuldades econômicas e sociais.
A opinião é do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IIEE), de Londres, cujo relatório anual será publicado amanhã.
Com o título "América Latina Segue em Luta", o IIEE analisa com otimismo prudente as perspectivas da região.
O informe destaca que as tensões sociais provocadas pelo descontentamento com os representantes políticos ou por problemas de redistribuição da riqueza constituem "sinais que convidam à prudência" e frisam a "fragilidade" das instituições civis.
A aplicação de políticas econômicas neoliberais marca a região, opina o IIEE, e vários países se defrontam com problemas de corrupção, explosões sociais e um ressurgimento da guerrilha.
"Estes acontecimentos negativos foram contrabalançados por eleições pacíficas, uma intensificação dos investimentos estrangeiros, o desenvolvimento de laços comerciais regionais e a ratificação do tratado de lvre comércio (Nafta) entre EUA, Canadá e México", diz o relatório.
A luta antidroga esteve marcada por uma mudança na política norte-americana, mais voltada agora para o combate à demanda.
Além disso, em dezembro de 1993 as forças colombianas conseguiram localizar e matar Pablo Escobar, líder do Cartel de Medellín. O governo passa a concentrar forças contra o Cartel de Cali.
Escândalos de corrupção minaram a situação política no Brasil, Venezuela e Guatemala, diz o IIEE. Nos dois primeiros, levaram ao afastamento dos presidentes.
Outro problema grave foi o "ressurgimento de atos de violência das guerrilhas do México, Nicarágua e Peru e em grande parte da América Central".
Segundo o instituto, "refletiram as dificuldades para estabelecer um consenso nacional que permita unir a direita e a esquerda".
No Peru, especialmente, o governo do presidente Alberto Fujimori teve que enfrentar no final do ano uma nova série de atentados terroristas do Sendero Luminoso.
O grupo maoísta parece ter-se reorganizado depois da captura, em 1992, de seu líder, Abimael Guzmán.
O México testemunhou no começo de 1994 um levante indígena no sul. O Exército Zapatista de Libertação Nacional pede redistribuição de terras e reformas.
O IIEE destaca que a vontade de apaziguamento dos camponeses indígenas, manifestada pelo mediador do governo Manuel Camacho Solís, teve repercussões negativas nas classes médias urbanas e entre os proprietários de terras.
Isso cria um risco "real e inquietante" de uma volta da política de linha-dura com os indígenas.
"O caminho será longo para estas sociedades em luta, mas pelo menos seguem este caminho e continuam avançando, ainda que lentamente", conclui o IIEE.

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