São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A opção Quércia

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – O ex-governador Orestes Quércia é indicado hoje candidato a presidente da República pelo PMDB. Nenhum canditado inicia a campanha em situação tão adversa.
O partido está completamente em frangalhos. Perdeu as principais lideranças, o patrimônio simbólico da resistência ao autoritarismo, a densidade eleitoral, a identidade.
É um partido sem rumo, que combate retoricamente o governo Itamar, mas se beneficia diretamente dele, repetindo a esquizofrenia que marcou sua relação com o governo Sarney.
Além disso, Quércia está marcado por denúncias de irregularidades que o perseguem há quase um quarto de século. Ele responde a mais de 15 ações.
A mais grave e que pode ter influência direta na campanha é a que apura irregularidades na importação de equipamentos de Israel. Quércia pode ser denunciado antes do primeiro turno.
Resultado de tantos problemas: ele está mal nas pesquisas. Tinha 8% em abril e 7% no início de maio. Estava em quarto lugar, bem distante de Lula (42%).
Mas imagino que nada disso deva estar preocupando Quércia. A biografia que a Folha publica hoje mostra diversas eleições em que começou a disputa sem apoio partidário e sem pontos nas pequisas e nas quais acabou se elegendo.
O que Quércia tem agora a seu favor? Muito pouco, mas pode ser o suficiente para crescer.
Primeiro, o discurso do desenvolvimentismo, que pode ter impacto maior que as repetidas louvações da honestidade, experiência ou estabilidade.
Tem muito dinheiro e tem duas características que beneficiaram Collor: a facilidade de falar a chamada linguagem popular e, se souber administrá-la, a imagem de vítima. Da imprensa e das elites.
E há uma novidade a beneficiá-lo. Preocupadas com o desempenho de Fernando Henrique, as mesmas elites que até ontem discriminavam Quércia hoje já não o descartam como alternativa possível para enfrentar Lula.
O que remeteria para mais uma comparação com a campanha de Collor: quando as elites precisam, os defeitos do candidato ungido desaparecem. Elas vêem apenas o que lhes interessa ver.
Collor teve o apoio das elites mesmo surrando-as. Quércia, acuado, pode repeti-lo sem risco de perdas.

Texto Anterior: Plagiar não é preciso
Próximo Texto: Bienal Brasil
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.