São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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Contagem regressiva

A aprovação da MP que criou a URV e definiu 1º de julho como data de lançamento do real acentua o clima de contagem regressiva rumo à nova moeda. Entretanto, o início da contagem não significa que se tenha controle total sobre o processo. Até o último instante devem ser checadas e rechecadas as condições em que virá o lançamento.
No caso da nova moeda, os últimos 45 dias de coexistência com a moeda velha iniciam-se com bons sinais. Na semana passada, por exemplo, o índice de preços calculado pela Fipe-USP recuou mais de um ponto. Há duas semanas, era o próprio responsável técnico pelo índice quem alertava para a possibilidade de o mês de maio fechar com a inflação na casa dos 46%. Mas veio a reestimativa para baixo e caíram os juros nominais.
Dois fatores explicam essa reversão. A entrada da safra agrícola deprimiu os preços dos alimentos, ao mesmo tempo em que setores que procuraram converter com "gordura" seus preços à URV enfrentaram difíceis negociações. Nos casos em que os aumentos reais (acima da inflação média) foram repassados, as vendas acabaram caindo.
Essa queda nas vendas é, nas atuais circunstâncias, outro sinal de melhora nas condições preliminares ao lançamento do real. Muitos temiam que já na fase da URV houvesse uma expansão das compras a prazo, no uso dos cartões de crédito e mesmo dos cheques pré-datados. Os números divulgados por grandes magazines, supermercados e serviços de proteção ao crédito não corroboram essa hipótese. Já a partir de abril houve moderação no consumo e as operações de crediário não ultrapassaram os limites previstos. É evidente que essa calmaria no consumo acaba funcionando como barreira contra uma aceleração da própria inflação.
Para completar o quadro de transição sem sobressaltos, entretanto, ainda há obstáculos. O governo promete para início de junho a definição de regras claras para as políticas cambial e monetária a serem adotadas após o real. Há também desconforto com a precariedade da base fiscal subjacente ao plano que se vai lançar –especialmente porque o Orçamento ainda não entrou em votação no Congresso.
Parece claro que a contagem regressiva tem tudo para prosseguir em bom ritmo. O detalhe inquietante é que o próprio foguete não está ainda inteiramente montado.

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