São Paulo, terça-feira, 24 de maio de 1994
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Adensamento renova cafeicultura

JOSÉ GOMES DA SILVA; JOÃO FRANCISCO BASILE DA SILVA

JOSÉ GOMES DA SILVA
JOÃO FRANCISCO BASILE DA SILVA
A Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo divulgou recentemente suas recomendações sobre a nova prática de café adensado e o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) sediou, no final de março, o Simpósio Internacional sobre Café Adensado.
Na ocasião em que a agricultura brasileira embarca em mais este modismo é preciso indagar porque esse verdadeiro "ovo de colombo" não foi implantado extensivamente até agora.
Responderemos com algumas razões que são o conservadorismo do setor cafeeiro brasileiro e a falta de canais ágeis de comunicação entre a pesquisa e o agricultor.
Também contribui para isso a síndrome de São Tomé, que campeia entre nós, de só acreditar em inovações depois de sua plena comprovação na grande prática.
Em contrapartida, tanto na imprensa como nos institutos de pesquisa, são numerosos os relatos de cafezais adensados bem sucedidos em diversos Estados.
O rendimento, nestes casos, é da ordem de 75 sacas beneficiadas por hectare na densidade de 8.300 plantas por ha até 150 sacas beneficiadas quando a população –um exagero em termos de manejo– chegou a 20 mil pés por hectare.
Registre-se, a propósito, que o rendimento médio no Brasil é de apenas 9 sacas por hectare e a média do Estado de São Paulo não atinge 17 sacas.
A tabela mostra dados experimentais para as duas variedades de café mais cultivadas no Brasil.
Ao aderir ao adensamento, é importante que o cafeicultor se conscientize de que irá trabalhar com um novo sistema de produção muito diferente daquele com o que está habituado.
A visão ultrapassada de lavouras centenárias plantadas a 4,00 m x 2,50 m deve ser esquecida de vez.
Entre as características do cafezal adensado está a unidade de aferição do rendimento físico, que deve ser sacas beneficiadas de 60 kg/ha e nunca sacas beneficiadas por mil covas.
A colheita do café apresenta maior rendimento (12 sacas por dia versus 4 sacas por dia do sistema tradicional). Tal rendimento permite pagar salários decentes aos trabalhadores.
O adensamento abre caminho para a pequena produção e para a agricultura familiar na cafeicultura.
Induz, ainda, à práticas de agricultura intensiva como irrigação, controle biológico, adubação foliar e fertirrigação.
O sistema elimina alguns fantasmas da cafeicultura como resultados financeiros deficitários, podas e baixos salários.
Por fim, o café deixa de ser uma cultura permanente para ser reimplantado em ciclos de médio prazo, sendo que alguns cafeicultores chegam a admitir que depois de seis anos "compensaria até arrancar tudo e plantar novamente".

JOSÉ GOMES DA SILVA é engenheiro agrônomo e ex-presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária)
JOÃO BASILE DA SILVA é engenheiro agrônomo da Fazenda Santana do Baguaçu, em Pirassununga (SP)

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