São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 1994
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Para Lula, a lei pode ser desrespeitada

DA SUCURSAL DO RIO

O candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem no Rio que "o justo e o legítimo" é mais importante que a lei.
A afirmação foi feita em resposta a uma pergunta sobre a ilegalidade de ele ter utilizado carros de som de sindicatos para fazer comícios em São Paulo.
"Entre a lei e a coisa justa e legítima, eu sempre disse que o justo e o legítimo é muito mais importante", afirmou.
As declarações foram feitas em entrevista coletiva depois de um debate entre Lula e empresários realizado na Associação Comercial do Rio de Janeiro (zona central).
Em seguida, foi perguntado se aquela referência era específica o ao caso do uso de equipamentos de sindicatos em sua campanha ou se poderia ser encarada como uma forma de solucionar eventuais conflitos em seu governo.
"Você interprete como quiser. Acho que você tem que entender que um conflito social está inclusive fora de regras legais. E quando isto acontece você precisa ter capacidade de negociar, de resolver o problema", disse.
Lula citou os exemplos das greves ocorridas na região do ABC paulista nos anos 70. "Quando eram consideradas ilegais elas aconteciam e você estabelecia política de conversação para resolver o problema", disse.
Ele afirmou que poderia pedir ao Judiciário para conhecer o que é uma porta de fábrica "e não ficar apenas baseado na lei".
O candidato do PT disse que considerava encerrado o episódio do uso do carro de som do Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD em sua campanha.
Segundo ele, caberá aos advogados do PT cuidar de eventuais ações judiciais baseadas no caso.
Lula comparou o episódio ao fato de estar, naquele momento, utilizando um microfone da Associação Comercial do Rio. Disse que já tinha falado para empresários de todo o país e que ninguém o ameaçara com processo por isto.
"O Vicentinho (Vicente Paulo da Silva, presidente do sindicato) fez assembléia para saber se eu poderia falar no caminhão. O Humberto Mota (presidente da associação) nem fez isto hoje", afirmou.
"Não vou descer no aeroporto perguntando de quem é o caminhão de som, o carro de som, de quem é o microfone", disse.
Irônico, Lula disse que passaria a "carregar aquelas caixinhas de som no pescoço".
Ele afirmou que o candidato do PPR à Presidência, Esperidião Amim, quer "ganhar no tapetão" ao afirmar que irá à Justiça Eleitoral impugnar sua candidatura.
A expressão "ganhar no tapetão" refere-se a vitórias que times de futebol obtêm fora de campo, nas federações ou na Justiça Esportiva.
Debate
Na discussão com os 400 empresários, Lula defendeu a manutenção dos monopólios estatais do petróleo e das telecomunicações.
O candidato petista admitiu a participação privada em outros setores, incluindo energia elétrica.
No debate, transmitido pela rede Manchete, Lula respondeu a perguntas de dez empresários sobre temas que iam da segurança pública ao combate à inflação.
O diretor da Associação Comercial Paulo Manoel Protasio afirmou que o candidato tinha dois discursos, um para a militância do PT e um outro mais moderado.
Lula contestou esta afirmação e afirmou que só fala o que tenha sido aprovado em congresso do PT.
O candidato petista viajou de São Paulo para o Rio e retornou à capital paulista usando a ponte aérea entre as duas cidades.

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