São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 1994
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Abaixo da lei

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Lula falou além da conta, achou que estava acima da lei. "Pode ser contra a lei, mas não é contra a vontade da classe trabalhadora", dizia ele anteontem, no Jornal Nacional, depois de usar o carro de som de um sindicato, na campanha.
Ontem, veio a resposta da lei. "Justiça eleitoral manda Lula parar de usar carro de som de sindicato", anunciaram TJ e Jornal Nacional. Mais importante, "se persistir, Lula pode ter a candidatura impugnada".
Uma vez, duas vezes não vão impugnar a candidatura. Mas bradar contra a lei, acreditar que está acima dela por ter metade das intenções de voto, talvez sim. E não é bom sinal, por outro lado, do que pode acontecer com Lula presidente.
Lula e o Estado
Ainda ecoava a empáfia de Lula e ele já estava discursando para outra platéia, ontem.
A entrevista do candidato aos empresários reunidos pela Associação Comercial carioca, ainda um dos centros do poder econômico no país, foi transmitida ao vivo pela Manchete.
É engraçado acompanhar como o discurso de Lula muda, conforme o público. Ontem, nada de pouco-caso com a lei ou de cantar vitória. Ontem era dia de aparentar moderação –e atacar o tamanho do Estado.
Como já havia feito com os banqueiros em Nova York, ele parecia outra pessoa no Rio. Chamando o presidente da federação das associações de "meu querido amigo Afif", Lula falou como um igual.
Começou dizendo que é preciso "reduzir os impostos", para que o país volte a crescer. Acrescentou depois que "o Estado finge que trabalha", ganhando as primeiras palmas. Empolgou-se e não parou mais:
"O Estado não deve se preocupar em administrar hotel. Não deve se preocupar em administrar indústria têxtil."
"Vamos fomentar o setor produtivo para que seja mais atrativo do que a especulação para o investidor estrangeiro."
"Eu tenho muito claro para mim que o Estado não tem competência para resolver todos os problemas brasileiros."
"Eu quero que vocês, da Associação Comercial, saibam que vocês vão ter um papel importante no próximo governo."
Novamente, muitas palmas, com essa última declaração. Sorrisos, até risadas soltas, com uma piada de Lula sobre Deus e os políticos brasileiros. É a Associação Comercial que se adapta aos novos tempos –caso eles venham, mesmo.

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