São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 1994 |
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O moleque Romário Aos deuses se permite quase tudo, até que digam inconveniências ou que se comportem inadequadamente. Mesmo quando são deuses de carne e osso, como alguns que o sucesso no esporte ou nas artes eleva acima dos mortais comuns. Romário de Souza Faria, o jogador da seleção brasileira, parece sentir-se parte desse universo seleto. Age como se fosse diferente –e melhor– que os demais jogadores. É verdade que parte da responsabilidade é da mídia e do público, que louvaram Romário após ter ele marcado os dois gols que asseguraram a classificação do Brasil para a Copa, na partida contra o Uruguai. O problema é que Romário está longe de ser um deus de feitos suficientemente comprovados para adquirir o direito de comportar-se como tal. Não chegou, por exemplo, às alturas de um Garrincha ou mesmo um Zico, para não mencionar Pelé, o indiscutível. O que em qualquer um dos citados já seria intolerável, torna-se abominável no caso de Romário. Será até perdoado se de fato alçar-se ao Olimpo esportivo, graças à conquista, pela seleção, de um título mundial que escapa ao Brasil faz já 24 anos e 5 Copas sucessivas. Mas será tratado como um dos grandes responsáveis se a seleção fracassar nesse objetivo. O problema é que, aí, já será tarde demais. Em qualquer esporte coletivo, o espírito de equipe é parte fundamental do êxito. Difícil acreditar em espírito de equipe quando um de seus integrantes se acha no direito de escolher ao lado de quem viaja ou de quem joga. É normal e até conveniente que, em um determinado grupo, se discutam as melhores alternativas. Mas não se pode aceitar o comportamento irresponsável de um integrante do grupo que menospreze os demais. Essa atitude é meio caminho andado para o desastre. Não há como escapar a uma realidade inexorável: cabe ao técnico escalar o time. Ou se muda de técnico ou se segue à risca essa obviedade. Há uma nítida linha divisória entre divergências internas e a mera molecagem e Romário insiste em ultrapassá-la com frequência. Texto Anterior: Mal acompanhado Próximo Texto: A lei "prêt-à-porter" Índice |
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