São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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Corte de custo aumenta lucro nas siderúrgicas privatizadas

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

Empresas reduzem quadros de gerência de 30% até 70%

Nem bem assumiu a presidência da recém-privatizada Companhia Siderúrgica de Tubarão, o executivo Israel Vainboin foi informado de que o forno da fábrica podia explodir.
O contrato de reforma já estava assinado e as obras custariam US$ 180 milhões.
Isso foi em agosto de 1992. De lá para cá, o alto-forno bateu recordes de produção e a CST saiu do prejuízo de US$ 149 milhões em 92 para um lucro de US$ 33 milhões em 93.
O alto-forno agora vai ser reformado, mas a obra vai sair por US$ 90 milhões, metade do preço que havia sido cobrado da CST estatal.
O presidente da Comissão Nacional de Desestatização, André Franco Montoro Filho, conta que os fornecedores de empresas privatizadas oferecem, "espontaneamente e logo de saída", descontos de 30%.
O sobre-preço cobrado das estatais decorre, de um lado, da incerteza quanto ao recebimento. O fornecedor cobra um adicional por conta de atrasos no recebimento, frequentes.
Os executivos de estatais, por sua vez, aceitam mais facilmente os preços pedidos pois, a rigor, não têm compromisso com os resultados.
A Acesita foi privatizada em novembro de 1992, depois de 48 anos de prejuízos (US$ 100 milhões em 1992). Já deu lucro de US$ 30 milhões no primeiro ano como privatizada.
A Usiminas, que era lucrativa como estatal, multiplicou seus lucros por quatro desde que foi privatizada, em 92.
Naquele ano, a siderúrgica fez um lucro de US$ 64 milhões. Já em 1993 saltou para US$ 126 milhões e, no ano passado, dobrou de novo, para US$ 246 milhões.
Esse resultado decorreu de maior produção e vendas a preços melhores. Na outra ponta, houve forte redução de custos.
O número de funcionários desceu de 12.480, no momento da privatização, para 10.944, no final de 1993.
A história se repete em todas as siderúrgicas privatizadas. A Acesita veio de 7.375 funcionários para 5.587, com o faturamento saltando de US$ 488 milhões para US$ 591 milhões. Em Tubarão, a redução de pessoal foi de 30%.
Mas o que mostra mais claramente como a gestão das estatais tende ao inchaço e ao desperdício é a redução de chefias.
A Acesita estatal tinha 240 gerentes. A privada tem 89. Diretores eram seis. Agora são quatro. Tubarão tinha 203 gerentes. Hoje, 90.
A Acesita tinha sete escritórios fora da fábrica, que fica em Timóteo, Minas. Hoje tem quatro. Foram fechados os de Belo Horizonte, Rio e Brasília.
Na sede de Tubarão, no Espírito Santos, tinha um restaurante para a diretoria que todo dia era preparado para receber 50 pessoas -dez mesas de 5 lugares. Mas nunca almoçaram lá mais que 10 pessoas.

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