São Paulo, quarta-feira, 1 de junho de 1994
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'O Caçador Selvagem' destrói o bel canto

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DO ENVIADO ESPECIAL A VIENA

O Caçador Selvagem' destrói o bel canto
Os doidos por ópera (leia-se "vienenses" com mais de 40 anos) estão sempre atrás de um compositor jovem que os garanta mais alguns anos de um gênero moribundo.
Anteontem, o jovem compositor Gerald Futscher, 32, tinha tudo para triunfar. Despontou, porém, para o esquecimento.
Em sua ópera de estréia, "O Caçador Selvagem" (Der Wilde Jaeger), que estreou na última sexta-feira em Viena, Futscher quis pôr toda a ópera abaixo.
Conquistou aplausos só dos jovens, que compareceram ao espetáculo como nunca fazem em ópera tradicional. Foram lá para vaiar a ópera e aplaudir o seu fim. O conflito de gerações é cada vez mais tenso na cidade.
Foi um pagode. O enredo em que Futscher se baseou foi escrito em 1832 pelo dramaturgo austríaco Franz Grillparzer. Este odiava ópera italiana e escreveu o libreto de "O Caçador Selvagem"' (subintitulado "uma ópera romântica") para colocar a pá de cal necessária no bel canto. Mas ninguém se interessou em musicá-la.
Ficou a ver navios a história do caçador que mata touros, destrói seus cogumelos e põe fogo no palco. Futscher foi ajudado pelo encenador Kurt Palm para criar a mais hedionda das músicas, cheia de reminiscências pós-românticas.
Os 113 músicos da Orquestra da ORF, dirigida pelo maestro norte-americano Dennis Russel Davies, punham fones de ouvido nas cenas de incêndio e trovões. O barítono (o caçador) só grunhia coisas como "`Uh, uh, uh, uh".
A música horrorosa recebeu apupos de boa parte da platéia. Só os jovens aplaudiram o autor, que subiu ao palco para rir da situação. A ópera ganhou mais um inimigo. E toda uma faixa etária. (LAG)

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