São Paulo, sexta-feira, 3 de junho de 1994
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Lições de um investimento no ensino básico

SILVIO H.W.TICHAUER

SILVIO H. W. TICHAUER
Um dos problemas que aflige a sociedade brasileira decorre da deficiente formação escolar da juventude, que carrega para os cursos secundários e profissionalizantes, quando não para a faculdade, uma educação falha obtida nas carteiras do ensino básico. Mas o que boa parte da sociedade se recusa a ver é que há solução para este problema.
Os resultados obtidos pelo "Projeto Qualidade no Ensino", iniciado dois anos atrás, sob a coordenação da Câmara Americana de Comércio comprovam essa evidência. Apoiadas por mais de 60 empresas nacionais e estrangeiras, três escolas de primeiro e segundo graus da periferia de São Paulo conseguiram reverter um quadro bastante comprometido em relação à qualidade do ensino.
O projeto, que chega ao final de sua fase piloto, registra avanços obtidos por meio de uma metodologia simples, de baixo custo e se revelou um modelo para uma parceria entre a iniciativa privada e o poder público. A metodologia baseia-se em dois vetores:
1) Aplicação, três vezes ao ano, de avaliações de rendimento escolar, em português e matemática, formuladas mediante as diretrizes apontadas pelas propostas curriculares do Estado de São Paulo.
2) Com base nos resultados das avaliações, especialistas contratados pelo projeto, orientam e capacitam, em serviço, os professores das escolas a partir das dificuldades manifestadas pelos alunos –que recebem aulas de reforço visando atender as suas necessidades específicas.
Os resultados são: quando o projeto iniciou, 90% dos alunos da quarta série do curso de magistério, que no ano seguinte se tornariam professores das séries iniciais do ensino de primeiro grau, dominavam 10% do conteúdo requerido em português. Hoje, esse índice alcança, em algumas classes, mais de 50%, sendo que a média do primeiro grau subiu para 60%.
Além disso, houve um declínio de 30% nos índices de evasão.
O investimento da iniciativa privada nessas três escolas foi de aproximadamente US$ 50 por aluno por ano.
A partir de 1994, o "Projeto Qualidade no Ensino" procurará aperfeiçoar esta metodologia e desenvolver, com as autoridades educacionais do Estado, formas de parceria com a iniciativa privada.
Buscar-se-á, também, a extensão, de forma controlada, da metodologia a outras escolas públicas de São Paulo e a identificação de parceiros em outros segmentos da sociedade na busca de uma melhor qualidade para o ensino básico no país.
Cabe ressaltar aqui algumas lições trazidas pela iniciativa da Câmara Americana de Comércio. Ficou claro que é possível, com investimento relativamente modesto, alcançar melhorias no ensino público. A redução dos níveis de evasão escolar e uma gestão mais racional dos recursos atualmente disponíveis permitem obter um retorno, a curto prazo, deste investimento.
Percebe-se que as empresas, de um modo geral, mostram-se receptivas à idéia de colaborar com o setor público na resolução dos problemas do ensino. Basta que se lhes mostre um programa com credibilidade e bons resultados.
Tal iniciativa explicitou ainda a necessidade de se atacar o problema da baixa remuneração dos professores da rede pública, motivo de desestímulo à busca de qualidade. Soluções lineares, ou que se baseiem apenas em tempo de serviço, são inócuas. Uma possível saída seria a adoção de um sistema que remunere o desempenho, incluindo-se aí, o aspecto da assiduidade e dedicação exclusiva.
Esperemos que os futuros governadores, bem como o próximo presidente da República, reflitam sobre estas lições e disponham-se a mudar o quadro de falência do ensino básico. Afinal, o que queremos é preparar o cidadão do ano 2000 para podermos enfrentar um mundo de complexidade e competitividade.

SILVIO H. W. TICHAUER, 49, é diretor-superintendente da FMC do Brasil, diretor da Câmara Americana de Comércio de São Paulo.

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