São Paulo, sexta-feira, 3 de junho de 1994 |
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Bia Lessa expõe retrato do homem conturbado
MARCO CHIARETTI
"O Homem sem Qualidades" de Lessa também conta a história de Ulrich, um "matemático em férias, 32 anos, solteiro", um gênio do cotidiano, um homem comum, metido em uma história estranha, a preparação de uma festa para o aniversário do imperador. Daniel Dantas faz um Ulrich perfeito, ilário, sério, cínico, cruel. Mistura-se com parte da platéia, que na montagem assiste com máquina fotográfica e binóculo o desenrolar da trama. É um cidadão comum: sua etiqueta é a de "homem", metido em sua história. História sem história, aliás, sem ruptura, sem alívio, sem chance para a distração. Não há "cenas". É uma só cena, contínua, sem interrupção, sem corte, um entra-e-sai de atores e cores e falas. A palavra é o eixo da peça. E à ela deve-se seu sucesso (e seu risco). São duas horas e meia, sem intervalo. Ódio, mal, acaso, morte, incesto, estupro, sexo, nudez, traição, sorte, justiça, amor, caos, desordem, violência, palavras. O sujeito entra no teatro e sai tremendo. Palavras, palavras, palavras. O fluxo monstruoso de Musil. Haveria que citar todos os atores. Basta falar de Lucélia Santos. Em certo momento ela repete "eu odeio", "eu odeio", mudando a inflexão, o tom, o volume da fala. Só por isso vale o ingresso. Texto Anterior: Falabella escracha musical de Disney Próximo Texto: O 'Anjo Negro' recupera a cor original Índice |
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