São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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"Se meu marido me encontrar, eu morro"

DANIEL CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

O "inferno conjugal" de S., 34, começou no primeiro mês de casamento, há cinco anos. O marido não aceitava que ela trabalhasse.
"Brigávamos todos os dias, até que ele foi no meu emprego e aprontou o maior escândalo. Fui demitida", conta.
As brigas continuaram. Meses depois, S. encontrou uma seringa entre os objetos do marido e quis saber se ele usava drogas. "Apanhei tanto que quase morri. Fiquei um mês na UTI", afirma.
S. acabou descobrindo que casou com um assaltante. "Ele troca tiros com a Rota e dorme com um revólver debaixo do travesseiro."
Ela se refugiou na casa dos pais, mas foi resgatada pelo marido. Tentou o divórcio. "Ele falava que ia me matar com choque elétrico."
Há um mês, S. e seus dois filhos estão morando no abrigo da Secretaria de Segurança Pública. "Ele está me procurando e já foi até na casa dos meus pais. Se me encontrar na rua, eu morro", diz.
Empregada há uma semana, S. teme ser encontrada fora do abrigo. "No ônibus, fico com a cabeça a mil. Se vejo algum amigo dele, eu fujo", diz.
Assim como S., o sonho de M., 38, é encontrar uma casa onde não possa ser encontrada pelo marido.
A diarista M. conta que apanhava toda vez que era flagrada tomando pílulas anticoncepcionais. Casou-se aos 15 e tem 11 filhos. Levou os cinco mais novos –de 4 a 11 anos– para o abrigo.
M. diz que foi à polícia "várias vezes" e denunciou o marido. "Ele ficava preso uma noite e voltava para casa. Há dois meses, ele tentou estuprar dois filhos. Não deu mais, tive que fugir."
Casada há 14 anos, A., 31, fugiu de casa para não morrer. O marido era alcoólatra, a espancava e vivia ameaçando matar, também, o filho mais velho.
Agora, empregada como arrumadeira –salário de 120 URVs por mês–, A. quer arrumar uma casa e pôr os três filhos na escola. "Quero começar do zero. Marido nunca mais, só namorados."

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