São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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Mulher com medo do tempo congela embrião

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A cada seis meses, a executiva Mariana, 33, vem do interior para uma consulta médica e uma visita a seus futuros filhos. Os bebês devem nascer dentro de três anos, ou no próximo milênio.
Mariana não é casada, não está namorando, nem quer ficar grávida nos próximos anos. Suas futuras crianças são cinco embriões congelados, presos a uma haste e mergulhados num tanque com nitrogênio líquido. O pai é um doador anônimo de um banco de esperma.
Mariana procurou a clínica do médico Roger Abdelmassih preocupada com a idade e o envelhecimento de seus óvulos. O médico sugeriu a fertilização de seus óvulos em laboratório e o congelamento dos embriões.
Mariana é um nome fictício, mas a escolha que fez já vem sendo praticada por centenas de mulheres em todo o mundo. Congelados a uma temperatura de 196º C negativos, os embriões podem, teoricamente, se manter vivos por tempo ilimitado.
É o que o médico Paulo Serafini, 43, do Centro Reprodutivo Huntington da Califórnia (EUA) e de Vitória (ES), chama de "parada biológica". "É um sonho que está se mostrando factível", diz.
Segundo ele, sua clínica nos EUA vem sendo cada vez mais procurada por mulheres solteiras com mais de 35 anos. Preocupadas com a chegada da menopausa elas estão congelando seus embriões. A fertilização é feita in vitro com sêmen colhido em banco de esperma.
Daqui a uma década, quando estas mulheres não estiverem mais ovulando, poderão transferir esses embriões e engravidar-se. O útero estará dez anos mais velho, mas os embriões não terão sofrido a ação do tempo.
"A mulher vai poder se libertar dos limites e das pressões da idade", acredita Serafini. Ao se valer do sêmen de um banco, a mulher evitará constrangimentos afetivos com um futuro companheiro.
Enquanto não se consegue congelar o óvulo, o congelamento do embrião será um avanço libertador para a mulher, diz o médico.
Casais com problemas de saúde também estão procurando o congelamento de embriões. Tratamentos como a quimioterapia podem deixar o homem e a mulher estéreis.
Os especialistas estão de acordo quanto às perspectivas do congelamento, mas discordam quanto à praticidade do método. "Não podemos vender ilusões", diz Milton Nakamura, um dos pais do bebê de proveta no Brasil.
Segundo ele, o índice de gravidez cai muito com o congelamento prolongado. Na sua clínica, Nakamura diz que só obteve resultados com embriões de seis meses.
Na maioria das clínicas, o congelamento é feito por algumas semanas, enquanto o embrião fertilizado in vitro aguarda o momento ideal para ser transferido ao útero.
O médico Roger Abdelmasih diz que sua clínica tem obtido entre 12% e 13% de nascimentos a partir de embriões congelados. Nos EUA, o centro de Norfolk, na Virgínia, registra índices entre 23% e 24%.

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