São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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É preciso ter classe

JERONIMO AUGUSTO GOMES ALVES

Ultimamente, tem-se discutido de modo amplo a existência da representação classista na Justiça do Trabalho. Mais que abrir espaço para toda sorte de passionalismo, a discussão teve um grande mérito: revelou o caráter de alguns que militam no sentido de extinguir a paridade na Justiça do Trabalho.
Nossos adversários, ou melhor, os que se pretendem inimigos mortais dos juízes classistas, antevendo a fragorosa derrota colhida na Revisão Constitucional, veiculam "matérias acerca da questão" eivadas de ataques pessoais e mentiras sem sentido.
Inverdades como a alegação de que os classistas são carreiristas quando, na realidade, carreira possuem os juízes recrutados por concurso público. Somos temporários, e como tais jamais poderíamos trilhar carreira, até por imposição legal.
Existe ainda outro aspecto, de ordem psicológica, merecedor de citação para melhor compreensão desse quadro de animosidade, instalado por aqueles que investem contra nós e as entidades sindicais que representamos. Alguns juízes de carreira sentem-se incomodados com a presença de trabalhadores e produtores no Judiciário. Movidos por esse sentimento, veiculam depoimentos carregados de ódio e preconceito.
Há poucos dias chamaram-nos "office-boys de luxo". Lutar a favor de uma tese é um direito. O que vem ocorrendo, todavia, é que o preço da veemência vem sendo pago com a falta de elegância.
Temos consciência de que, com nossa experiência sindical e de negociação, eliminamos mais da metade das demandas trabalhistas no país, através dos acordos que promovemos. Este esforço para realização das conciliações nasce da consciência classista dos momentos difíceis pelos quais passa a nação.
Falamos a língua do povo, único destinatário da Justiça. Conhecemos seus anseios e sofrimentos. É preciso que nossos adversários tenham consciência da delicada realidade da vida nacional e moderem seu comportamento e linguagem, pois a Justiça do Trabalho é pára-choque social dos mais importantes nos momentos de crise.
Insurgem-se, ainda, contra o que chamam "aposentadoria especial do classista", que nada tem de especial, uma vez que os juízes de carreira, após cinco anos de judicatura, como nós, se contarem com 30 anos na atividade privada, podem igualmente ter o mesmo benefício.
Em relação ao custo dos salários e aposentadorias do representante classista, os percentuais centesimais a ele relativos já foram objeto de matérias anteriormente veiculadas por nós. Essa migalha garante ao país o desenvolvimento das relações de trabalho, e sobretudo paz social. Isso não tem preço.
Não transformaremos as bravatas de um pequeno grupo em um bate-boca sem razão. A esmagadora maioria dos magistrados de carreira é correta, trabalhadora, e tem todo o direito de opinar contrariamente à nossa permanência na Justiça do Trabalho. Ouviremos respeitosos e atentos suas observações e sugestões. Mas ultimamente nossos advesários vêm exagerando.
Nossa resposta a tudo isso continuará sendo nosso trabalho dedicado e sério. A Justiça do Trabalho precisa de nós. E para estar na Justiça do Trabalho, antes de tudo, é preciso ter classe.

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