São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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Seleção usa computador contra a Rússia

FERNANDO RODRIGUES; MÁRIO MAGALHÃES
DOS ENVIADOS ESPECIAIS

O primeiro jogo do Brasil na Copa também será o mais moderno da história do futebol do país.
Um computador vai ajudar Parreira e o preparador físico Moraci Sant'Anna a identificar milimetricamente todos os passos do adversário.
Trata-se de algo revolucionário no futebol. Uma equipe de técnicos norte-americanos estará alimentando um computador até os 40min do primeiro tempo.
Aos 40min, os técnicos descerão para o vestiário. Uma impressora laser será conectada aos computadores portáteis da equipe.
Quando Parreira, Moraci e os jogadores chegarem ao vestiário, a impressora a laser já terá produzido um mapa do gramado, com todos os movimentos dos russos até os 40min do primeiro tempo.
Nesse mapa, o técnico poderá conferir, cientificamente, todas as áreas que os adversários ocuparam até aquele ponto do jogo. Poderá ter esse dado também da seleção.
"É sensacional. Dá para verificar com total precisão os pontos do gramado onde o adversário está mais presente", disse Parreira.
A Folha teve acesso com exclusividade a um estudo experimental que foi entregue a Parreira, utilizando esse programa.
Trata-se de um levantamento feito para o jogo amistoso entre Brasil e Argentina, realizado em 23 de março passado. A seleção brasileira venceu a da Argentina por 2 a 0, gols de Bebeto.
Os inventores do programa de computador são os técnicos Zvi Friedman e Jon Kotas. Parreira os conheceu durante um congresso de treinadores nos Estados Unidos.
Friedman visitou Parreira em Los Gatos. Levou o estudo sobre o jogo contra a Argentina ao qual a Folha teve acesso.
Trata-se de uma apostila com 927 páginas. Como não foi um estudo realizado apenas na hora do jogo, Friedman imprimiu todos os gráficos que o software permite.
Os principais são os que mostram as áreas ocupadas pela equipe durante os dois tempos da partida. Os mapas reproduzidos hoje na Folha deixam claro os locais onde cada time esteve no gramado.
"Podemos saber exatamente, já no intervalo, os locais que serão mais convenientes para os nossos jogadores avançarem", afirma Moraci Sant'Anna.
Contra a Argentina, por exemplo, fica claramente demonstrado que o Brasil não fez jogadas de linha de fundo do lado esquerdo do campo no primeiro tempo do jogo.
Essa área do gramado foi ocupada por Branco no primeiro tempo e por Leonardo no segundo tempo. Pelo menos no jogo contra a Argentina, Leonardo foi mais ofensivo do que Branco.
Obviamente, Parreira não terá tempo no intervalo de jogo para analisar tantos gráficos. Escolherá apenas os principais, que mostram a recepção dos passes dos jogadores russos e o de algum jogador adversário de destaque.
Mas terá sempre a opção tomar decisões táticas baseadas em fatos absolutamente concretos do primeiro tempo da partida.
Como o técnico brasileiro já conta com o trabalho de Moraci Sant'Anna nessa área (leia texto nesta página), pretende utilizar o programa dos norte-americanos para espionar os adversários.
O programa de Zvi Friedman será testado durante um jogo, pela primeira vez, na partida que o Brasil fará contra Honduras, dia 8. Se for aprovado, será utilizado pelos brasileiros na Copa. (FR e MM)

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