São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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Um amistoso que conta ponto

ALBERTO HELENA JR.

Hoje o Brasil entra em campo, todo paramentado, pela primeira vez desde que a seleção foi reunida para disputar a Copa.
É um amistoso, certo. Contra o Canadá, time de quarta ou quinta categoria na hierarquia do futebol mundial, certo? Trata-se, pois, de um coletivo vestido a rigor, mais um treinamento para o Brasil.
Acontece que entramos em campo com nossa equipe completa, inclusive com o lateral-esquerdo que a grande maioria dos torcedores brasileiros clamava aos céus –Leonardo, no lugar de Branco.
E isso passa a ter um significado especial. Mesmo sendo um amistoso, conta ponto. Pois o Brasil inteiro vai ver pela TV como está nosso time, se Parreira segue o caminho certo em direção ao tetra, se esse é o melhor selecionado de que dispomos, se Branco é mesmo dispensável, se Romário e Bebeto vão-nos saciar dessa eterna sede de gols etc.
Por outro lado, vale lembrar que, neste mundinho reduzido ao tamanho de uma bola de futebol pelas múltiplas redes de satélite, ninguém é mais bobo. As informações voam para todos os lados, numa velocidade inconcebível, e os canadenses que hoje enfrentaremos, certamente, sabem tudo sobre cada um dos nossos craques, nossos esquemas de jogo e tudo o mais. Logo, mesmo tecnicamente inferiores, eles não serão moleza.
Além disso, há que se computar o fato de que estamos naquela fase de treinamento em que se privilegiou o preparo físico. Nesta fase, os músculos se enrijecem, as pernas pesam, os movimentos se tornam mais lentos. O cérebro age, mas nem sempre o corpo obedece ao seu comando com a devida presteza. Assim, não se pode esperar um time em ponto de bala, partindo pra cima dos inimigos com aquela soltura e convicção indispensáveis para oferecer um belo espetáculo e perpetrar um massacre de gols.
Até agora, o que fizeram nossos craques em campos da América? Fizeram uma física puxada, três coletivos e uma série de exercícios táticos, quase todos cuidando de dar à defesa uma postura mais adequada.
De início, Parreira insistiu no posicionamento dos quatro zagueiros. Depois, na saída rápida da defesa, quando a bola era recuperada. Sua principal preocupação, nesses treinos, era a de condicionar zagueiros e laterais a se aproximarem rapidamente do meio-campo, com dois objetivos: deixar o máximo de atacantes adversários em posição de impedimento, e, ao mesmo tempo, compactar nossa equipe, com a linha de defesa mais próxima dos armadores e atacantes.
Já no meio da semana passada, experimentou o ataque fazendo pressão sobre a defesa, tentando impedir a saída de bola. Ora, como esse time vem jogando junto há muito tempo, quase três anos, embora esparsamente e sem tempo para treinamentos, é de se esperar que, no ensaio geral de hoje, possamos captar algum avanço quanto ao jogo coletivo e os exercícios realizados até aqui.
Nos dois primeiros coletivos a que pude assistir, o resultado foi uma estrondosa goleada: 11 a 3. Isto é: 6 a 2 e 5 a 1. É bem verdade que o time reserva teve de apelar para jogadores americanos, o que, por certo, enfraqueceu-o, tecnicamente. Assim como, se tinha um ataque respeitável, com quatro jogadores ofensivos, seu meio-campo, exatamente por isso, ficou mais exposto, o que facilitou as manobras dos titulares.
Tudo isso entra em campo, hoje, com a camisa da seleção. Vamos ver no que vai dar.

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