São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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Psicanálise, índios e serpentes no país distante

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O ponto de partida da psicanálise em São Paulo ocorreu quando o psiquiatra Francisco Franco da Rocha (1864-1933), idealizador e fundador do Hospital Psiquiátrico do Juqueri, fez sua aula inaugural de 1919 na Faculdade de Medicina, dissertando sobre Freud.
Durval Marcondes (1899-1981) começou a ser despertado para o assunto quando soube do tema das aulas de Franco da Rocha.
A primeira consolidação da teoria psicanalítica ocorre, contudo, em 1920, quando Franco da Rocha lança "A Doutrina Pansexualista de Freud". A obra chega ao conhecimento de Freud, que não gostou do título devido à amplitude do termo "pansexual". Dez anos depois, na segunda edição do livro, Franco da Rocha altera o nome: "A Doutrina de Freud".
Em 1927, Rocha e Marcondes fundam a Sociedade Brasileira de Psicanálise. O primeiro é eleito presidente e o segundo, secretário. Escreve Durval que sua "intenção era apenas dar a Freud, que, para mim, não poderia entender nada do meu idioma, a noção de que, num lugar tão distante da civilização européia, cheio de índios e serpentes, havia alguém que ousava se interessar pela nossa `jovem ciência'."
Em 1930, Durval Marcondes recebeu de Max Eitingon, um dos fundadores do Instituto de Psicanálise de Berlim, a edição comemorativa dos dez anos da entidade alemã. Desde então, Marcondes decide que, para contribuir na formação dos quadros da Sociedade, precisaria de um psicanalista europeu no Brasil. O psicanalista René Spitz manda correspondência mostrando-se interessado em vir ao Brasil. A Revolução Constitucionalista de 1932 interrompe a correspondência e os próximos anos trarão um recuo do movimento.
Em 17 de novembro de 1936, numa entrevista publicada na "Folha da Noite", um dos jornais que viriam a formar a Folha, Marcondes avalia que a psicanálise "poderá, em qualquer momento, reorganizar-se, uma vez que os estudiosos do assunto o queiram".
A SBPSP considera José Nabantino Ramos, então presidente da Empresa Folha da Manhã S/A, que edita a Folha, como um dos maiores divulgadores da psicanálise no Brasil. "Nabantino não mediu sacrifícios para usufruir o núcleo incipiente que nascia em São Paulo", escreveu a psicanalista Virgínia Bicudo.
No ano de 1936 ocorre o Congresso Psicanalítico Internacional de Marienbad (Suíça), onde começam a se tornar manifestos os sonhos de Durval. Ernst Jones, que depois se tornaria o maior biógrafo de Freud, autoriza a vinda ao Brasil da psicanalista Adelheid Koch, que aceita Durval Marcondes com primeiro candidato a analista.
Pode-se dizer que a psicanálise brasileira começa a nascer para o mundo em 9 de outubro de 1943, a partir das cartas trocadas entre Koch e Ernst Jones, presidente da International Psychoanalytical Association (IPA). Na correspondência, Koch indaga sobre a possibilidade de os psicanalistas formados aqui serem reconhecidos pela IPA.
Em dezembro de mesmo ano, Jones aceita o pedido. Em 5 de julho de 1944, estava consolidado o Grupo Psicanalítico de São Paulo, embrião da atual SBPSP.

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