São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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Veteranos têm esquema médico especial

FRANÇOIS RAITBERGER
DA "REUTER"

Henry Ayala teve um derrame cerebral fraco no ano passado. Mas, aos 77 anos, ele voou de San Francisco até a França e arrastou sua mala por Paris até um trem para a Normandia.
Ele viu a região pela primeira vez em 6 de junho de 1944, sob uma barragem de tiros.
Ayala faz parte das dezenas de milhares de idosos veteranos de guerra que estão se reunindo para o 50º aniversário dos desembarques aliados do Dia D.
Eles enfrentam o estresse de uma longa viagem ao exterior e a emoção da volta aos campos de batalha onde viram muitos amigos morrer.
"Ele está um pouco cansado", disse Monica, mulher de Ayala, quando o casal desembarcou do trem em Bayeux. "Por causa da viagem de avião", disse Ayala, um homem enorme e um pouco ofegante.
As autoridades francesas estão montando um serviço de atendimento médico especial para a comemoração.
Elas prevêem a presença de entre 35 mil e 45 mil veteranos, a maioria com mais de 70 anos, alguns com mais de 90.
"Eles terão um médico por perto. Estarão melhor atendidos do que se estivessem em suas casas", disse Françoise Jardin, supervisora dos serviços médicos.
Anestesistas e cardiologistas estarão em unidades de ressuscitamento em cada um dos 12 locais de cerimônias, para prestar socorros imediatos a quaisquer pacientes, antes de enviá-los ao hospital.
Foram mobilizados helicópteros e uma frota de ambulâncias. Hospitais públicos e clínicas particulares já reservaram centenas de leitos.
"Trata-se de um grupo frágil, por causa de sua idade, do estresse, do cansaço e do clima", disse o coronel Remy Lacarme, diretor dos serviços de resgate para as cerimônias de comemoração do desembarque na Normandia.
Durante a primavera na Normandia, o clima sofre mudanças repentinas, de quente e ensolarado a frio e chuvoso.
Isso poderia prejudicar os veteranos, que vão enfrentar longos períodos de espera nas cerimônias.
As autoridades admitem que não têm experiência anterior de qualquer agrupamento tão grande de idosos.
Segundo os boatos que circulam na região, muitos caixões foram levados para um rinque de gelo, transformado em mortuário temporário.
Jardin qualificou o boato de ridículo. Ela também disse que versões segundo as quais os veteranos poderiam apresentar um índice de mortalidade de um por mil eram "exageradas".
Ela disse que essas versões parecem ser baseadas nas estatísticas referentes aos peregrinos que visitam o santuário católico francês de Lourdes.
Mas, diferentemente de muitos pacientes que buscam curas milagrosas em Lourdes, a maioria dos veteranos está bem de saúde.
A cifra de um por mil seria mais realística no caso de pessoas gravemente doentes do que de pessoas que podem vir a sofrer alguma fatalidade.
Além disso, quaisquer veteranos que tiverem problemas médicos receberão o melhor atendimento médico disponível.
O custo do tratamento médico de pacientes vindos de países membros da União Européia será coberto pelo seguro social estatal.
As agências de viagens aconselharam os veteranos americanos a fazer seguro médico.
Apesar disso, uma representação consular americana foi aberta no cemitério de guerra americano de Colleville, perto da praia Omaha, para resolver quaisquer problemas de pagamentos que possam ser enfrentados por veteranos americanos.

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