São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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Mortos na chacina podem ter chegado a 3.000

RENATO MARTINS
DA REDAÇÃO

A Anistia Internacional divulgou na última terça-feira uma lista com os nomes de 75 pessoas que teriam sido mortas por tropas do Exército chinês na praça de Tiananmen na madrugada de 4 de junho de 1989. Entre elas, um garoto de 9 anos e uma mulher de 78.
Não se sabe, porém, e talvez nunca se venha a saber, quantas pessoas morreram naquela noite. Em 6 de junho, um porta-voz do governo relatou 300 mortos e 400 desaparecidos, além de 2.000 civis e 4.000 soldados feridos. O governo nunca revelou seus nomes.
As cifras dos dissidentes chineses e de jornalistas estrangeiros são muito maiores, variando de 1.000 a 3.000 mortos.
A versão oficial para a chacina foi que "uma horda de contra-revolucionários atacou as tropas do Exército Popular de Libertação com a intenção de derrubar o governo". Tudo seria "coisa de um pequeno grupelho".
"As tropas começaram a atirar quando chegaram ao Monumento aos Heróis do Povo. Eu estava sentado e vi uns 20 ou 30 estudantes caírem perto de mim. Um grupo de trabalhadores tentou ajudar os estudantes e também foi atingido. Os soldados ateavam fogo aos cadáveres. Muitos tentavam recolher os corpos, mas foram espancados, alguns até a morte. Médicos também foram agredidos. Vi uma menina de 18 anos ser esmagada por um tanque", disse um estudante.
Um dos primeiros alvos das tropas foi a "deusa da democracia", cópia em papelão e gesso da Estátua da Liberdade de Nova York que os estudantes haviam erguido diante do portão de Tiananmen.
"Eles primeiro abriram fogo sobre as cabeças, e em seguida nas próprias cabeças das pessoas. Eles riam de maneira selvagem, como se aquilo não fosse uma coisa séria", disse uma testemunha.
No dia 6, quando ainda havia combates em pontos de Pequim, o governo advertiu os jornalistas de que as tropas tinham ordem de atirar em qualquer pessoa fotografando ou filmando na cidade. (RM)

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