São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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Ciência do enforcamento tenta reduzir o sofrimento

DA "THE PHILADELPHIA INQUIRER"

O enforcamento é usado como método de execução há mais de 2.000 anos. Nos EUA, ainda é uma das opções disponíveis para os condenados à morte nos Estados de Washington e Montana.
Com o passar dos anos, os carrascos começaram a trabalhar de modo científico. Há cálculos meticulosos baseados na grossura e comprimento da corda, a posição do nó do laço e o peso e a altura do condenado. O carrasco precisa usar a quantidade certa de corda, para que o pescoço do condenado se quebre com o peso de seu corpo.
O enforcamento mais recente nos EUA foi em 12 de janeiro de 1993, na Penitenciária Estadual de Walla Walla, em Washington. Segundo a maioria dos relatos, a morte de Westley Allan Dodd parece ter sido quase indolor.
O médico-legista do condado, Donald Reay, disse que o primeiro ferimento foi a ruptura dos ligamentos do pescoço de Dodd, que separou ossos de sua coluna vertebral e aparentemente o fez ficar inconsciente em pouco tempo. Se houve dor, ela provavelmente não durou mais do que um instante e a morte provavelmente ocorreu depois de dois a três minutos.
Mas nem sempre o processo transcorre sem problemas. Os registros de Walla Walla incluem descrições de presos sendo parcialmente decapitados, por terem sido pendurados de alturas grandes demais, ou casos em que os condenados imploraram ao carrasco que os erguesse e deixasse cair novamente. Em alguns casos as cabeças foram separadas dos corpos. Em outros a agonia se prolongou.
Clinton Duffy, carcereiro da penitenciária de San Quentin entre 1942 e 1954, participou de 60 enforcamentos e descreveu um deles:
"O homem caiu e vi que ele lutava, puxando as cordas. Ele chiava e assobiava, tentando respirar, e havia sangue passando pelo capuz preto. Ele urinou e defecou e suas fezes caíram no chão. O cheiro era terrível. Vi testemunhas desmaiando e tendo que ser carregadas da sala. Algumas vomitaram. Quando o homem foi tirado da forca e o capuz foi removido, grandes nacos de carne haviam sido arrancados do lado de seu rosto".
O que acontece quando a corda é curta demais foi descrito por uma testemunha de um enforcamento em 1896, no sul de Illinois:
"Fomos obrigados a ficar ali, presos por um fascínio horrorizado, enquanto a criatura torturada se contorcia no fim da corda, arremetendo-se como uma rã fisgada, chutando e debatendo-se em voltas loucas e inúteis... 5 longos minutos se arrastaram, 10, 15, 20, e ainda o homem se contorcia, num silêncio macabro que nos gelava até os ossos. Seus braços, mal amarrados, conseguiram se libertar e ele os puxava para cima e para baixo... 30 minutos se passaram, 40.... As pessoas, antes ávidas por sensações, gemiam de aversão e asco. Finalmente, depois de 45 minutos, a figura se aquietou. Deu um último chute e ficou imóvel".

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