São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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Bolsa japonesa sobe em meio à recessão

OSCAR PILAGALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Se o termômetro da Bolsa de Valores estiver refletindo com fidelidade o estado do paciente, o Japão está na iminência de deixar para trás a profunda recessão que marca os anos 90.
O índice Nikkei –que mede o desempenho das 225 ações japonesas– valorizou 20% este ano, passando de quase 17.500 pontos no final de 93 para pouco menos de 21.000 pontos no fechamento de maio.
Só no mês passado, quando Bolsas de outras partes do mundo registraram movimento de baixa influenciadas por juros e inflação ascendentes, a alta do Nikkei foi de expressivos 10%.
O fato de o resultado positivo ter sido obtido em meio à divulgação de balanços que revelaram lucros decrescentes pelo quarto ano consecutivo o torna ainda mais significativo.
A alta do Nikkei sinaliza a confiança dos investidores no futuro imediato das empresas, que hoje vivem situação comparável à da década de 70, quando a crise do petróleo pegou o país no contrapé.
"O mercado acionário acredita não apenas que o pior já passou, mas que as empresas terão anos de rápido crescimento", comenta o "Financial Times".
O otimismo é fundado na evidência de que o desastre previsto não se concretizou. Os lucros caíram 16% em média no ano passado –não 23%, como se esperava.
Para este ano, as perspectivas em relação ao ritmo de recuperação são discrepantes e –pela primeira vez– as projeções dos investidores estão mais otimistas do que as das empresas.
No mercado, aposta-se que os lucros subam 16% em média este ano. Nos balanços, a previsão é bem mais modesta –apenas 9%.
A cautela das empresas tem origem na análise de que os dois principais vilões da recessão –a fraca demanda interna e a supervalorização do iene– devem continuar em cena.
Nessa hipótese, haveria recuo ligeiro das vendas, o que seria agravado pela queda de preços. Quanto ao iene, que encarece o produto japonês, continuaria atrapalhando as exportações.
As chances de recuperação estão concentradas em empresas e setores que aproveitaram a recessão para se reestruturar. As empresas manufatureiras, por exemplo, esperam ver seus lucros crescer 18% –o dobro da média.
A reestruturação não foi tão generalizada como no Ocidente. O "Financial Times" nota que o encolhimento de muitas empresas foi cíclico e não definitivo.
Isso pode ter sido suficiente para contornar dificuldades conjunturais, mas deverá causar problemas associados à competitividade nos mercados internacionais.
A reestruturação da empresa japonesa esbarra no respeito ao tradicional emprego vitalício. Prova disso é que o impacto da recessão no mercado de trabalho foi muito menor no Japão do que em outros países industrializados.
O índice de desemprego não chega a 3% –o que é a metade do que nos Estados Unidos se considera o mínimo para que os salários não exerçam pressão inflacionária.
Mas essa é uma questão de médio prazo e os olhos dos investidores estão voltados para as oportunidades mais imediatas de fazer um bom negócio. Por isso, continuam a desafiar a recessão comprando mais ações.

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