São Paulo, terça-feira, 7 de junho de 1994
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"Ganância"

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Itamar Franco, de vez em quando, até que acerta na sua ira divina. Ontem, por exemplo, ele bradou na televisão contra a "ganância desses indivíduos" que cartelizam a economia brasileira, em prejuízo de todos. Falava do projeto de lei que promete ser a última omissão do Congresso no ano.
Mas nem isso mais é aceito, ou elogiado. O âncora do TJ Brasil, aquele que pede a prisão perpétua, dia sim, dia não, acredita que a nova lei sonhada pelo presidente é um perigo. "É preciso tomar muito cuidado com esse tipo de lei", dizia o âncora, ontem. "Pode virar um controle autoritário."
Não deve ser nada fácil, para o presidente Itamar Franco. Nem quando ele está certo.
Jegue
A campanha eleitoral entra na sua pior fase. Vai começar a Copa do Mundo e ninguém tem o que falar. FHC, ontem no SBT, na ânsia de criar algum fato, como exige o padrinho ACM, acabou soltando outra bobagem: "Estão dizendo que eu montei num jegue. Isso é preconceito do sul. Era um cavalo." Devia ter feito como Lula, que se escondeu e não deve abrir a boca tão cedo.
Cotidiano
É a rotina, no Rio de Janeiro. Ontem, na descrição da Globo, "policiais civis foram cercados por dezenas de traficantes dos morros Pavão e Pavãozinho". Na descrição da Record, a expressão foi ainda mais exata: "Os policiais civis foram encurralados pelos traficantes." Encurralados. É bandido demais, para pouco mocinho.
Wilson Romão
Nos tempos de Romeu Tuma, agora candidato ao Senado, era a mesma coisa. Não havia operação da Polícia Federal em que ele não aparecesse. Coisa de quem sonhava com a política. Agora, com Wilson Romão, o amigo de Itamar, nada mudou. Ele já foi até impedido pelos agentes de entrar no prédio da PF, mas não perde a pose. Não para as câmeras.
Ontem, lá estava Romão, com um dia de atraso, depois do tiroteio, em Tocantins. "É a maior conexão que nós já pegamos aqui no Brasil", disse ele, assumindo a autoria, no Hoje e no Jornal Nacional. "Para nós, foi uma surpresa ver a sistemática que eles estavam utilizando. Aqui eles montaram uma verdadeira ponte aérea. Era um avião atrás do outro, descendo e descarregando cocaína."
Mais algum tempo e ele sai candidato a qualquer coisa.

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