São Paulo, sábado, 11 de junho de 1994
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Balanço foi mudado para obter aprovação da CVM

FREDERICO VASCONCELOS
EDITOR DO PAINEL S/A

A Gazeta Mercantil S/A teve que reformular seu balanço para ver aprovado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) o registro como empresa aberta.
A empresa que edita o jornal "Gazeta Mercantil" concluiu o processo de abertura do capital, levantando US$ 23 milhões junto a fundos de pensão de estatais.
Outros grupos do ramo editorial pretendem seguir a mesma trilha: a empresa que edita o "Jornal do Brasil" e a Editora Abril têm planos de abrir o capital recorrendo a fundos de pensão.
Os órgãos técnicos da CVM não aceitavam a reserva de avaliação (estimativa de valor da companhia) de US$ 136 milhões da Gazeta Mercantil baseada num ativo intangível (o "negócio" da empresa, capitalizado em balanço como a "marca" Gazeta Mercantil).
Essa reavaliação é um "procedimento contábil não aceito". Aparentemente uma discussão de critérios, essa reserva é considerada por especialistas do mercado uma "maquiagem" do balanço.
Isso porque ela "incha" o patrimônio e compromete a avaliação da empresa (pode reduzir o nível de endividamento).
Para contornar o problema, foi criada uma empresa controlada, cujo capital foi integralizado com bens –no caso, a "marca"–, sendo mantido o valor de avaliação.
Desta forma, a empresa aberta deixa de ser a proprietária da marca, que passa a pertencer à controlada, formada com outros sócios, em participação ínfima.
Os valores da avaliação passam a ser contabilizados como equivalência patrimonial. A diretoria da CVM aceitou o procedimento de constituição da controlada e a empresa teve seu registro aceito.
Quando a Folha levantou essa questão, no início de maio, o presidente da empresa, Luiz Fernando Levy, informou que a CVM "contestava apenas o método".
"Nós pegamos o valor da avaliação feito pela Ernst & Young e colocamos como valor do título, que é o único ativo importante que a empresa tem", diz.
"A empresa vale isto aqui. Se eu não coloco a marca, é difícil uma empresa de comunicação dar resultado. Seu principal ativo, fora as marcas, são as assinaturas. Isso vai para o passivo da empresa, pois ela fica devendo tudo que tem de assinantes para entregar à frente", diz Levy.
"Eu não sou dono da marca. Nós colocamos no patrimônio da empresa. Houve vantagem em relação à situação dos acionistas antigos", explica.
Ary Oswaldo Mattos Filho, ex-presidente da CVM que assessorou a Gazeta Mercantil, entende que a CVM não pode entrar no mérito da questão. "O laudo de avaliação foi aprovado por todos os acionistas e a proposta da empresa foi analisada por todas as instituições, que acharam o procedimento correto", diz.
Com a capitalização, a Gazeta Mercantil inicia seus projetos de criação de novos produtos. Nesta segunda-feira, circulará o "Memo", um caderno com uma espécie de agenda e informações de tendências de mercados.
A empresa também está negociando um acordo com a Reuters. Procurado ontem pela Folha, Levy, que se encontrava na sucursal da "Gazeta Mercantil" no Rio, não retornou a ligação.

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