São Paulo, sábado, 11 de junho de 1994
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Põe água no feijão que eu já estou indo

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, eu já estou com o pé nesta estrada! E nada será como antes a partir de amanhã. Garota eu vou pra Califórnia!
Quando você ler estas mal traçadas eu já estarei lá. "I'll be there", como canta o Michael, aquele que preservou um velho hábito dos comunistas no que diz respeito (ou a falta de) criancinhas.
Los Gatos aqui vou eu. Como diz um amigo meu, muito melhor seria dizer: Las Gatas aqui vou eu. Uau! Ô Parreira, põe mais água neste feijão da seleção que eu estou chegando.
Já embarquei nesta canoa. E a trip vai ser longa. Milhares e milhares de milhas no ar. É isto aí. Eu vou entrar no ar. Vou cobrir a Copa na poltrona. Do avião.
Então avisa lá, avisa lá, que eu vou. Que eu vou não, que eu já estou indo. E lá vou eu de novo. Pela conquista da América. Como o épico camoniano: estou em pleno ar! A plenos pulmões!
Minha América, minha terra a vista. Feliz de quem penetre (êpa, êpa, ôpa, ôpa) o seu mistério. Em San Francisco fica a turma da geração beat, aquela do "on the road". Eu vou de "on the air".
24 horas no ar. Eu vou virar passarinho. E contar tudo lá do céu. Alô, alô, turma do Barretos Bulls. Para nós tudo é caminho. Até a terra do Chicago Bulls. Caminhando contra o vento.
Alô, alô Mancha, alô, alô Independente, alô, alô Gaviões, alô, alô magnética do peixe: eu já estou embarcando. Tantas alegrias destes dois últimos anos já estão na bagagem. Já passaram na alfândega.
Se lá não der pé, nós sabemos que aqui tudo vai dar pé. E se a canoa não virar eu chego lá. Alô, alô salomônico fã clube do Romário: o código é sim, sim senhor. Senão eu vou dar um troço.
E será uma longa viagem. Pelos cinco artilheiros. Pelas cinco pontas das estrelas. Pelos cinco pontos cordiais. Pelos cinco cantos da América. Apertem o cinto. Que aqui vou eu.
Alô, alô, palmeirense Rogério Fasano, alô, alô são-paulinas Ulli e Mônica Mendes, alô, alô corintiana morena dos olhos d'água, alô, alô santista Luis Schwarcz: já estou neste balão atrás daquele bolão.
E alô, alô, flamenguista Caetano Veloso, alô, alô, fluminense Jô Soares, alô, alô velho botafoguense Huguinho Terceira Via, alô, alô vascaíno Ribeirinho do Encantado: eu já entrei neste barco.
Lá vou eu de novo na nau dos insensatos. Lá vou eu de novo pra correria nos aviões de carreira. Aliás, haverá algo mais no ar do que os aviões de carreira. E do que o céu de brigadeiro.
Alô, alô, Ben Jor, o muso deste pedaço: até o Central Park, meu nego. Pra magnética americana agradecida assim cantar. E eu acredito é na rapaziada. E salve a mocidade alegre e independente.
Alô, alô, Luiz Zerbini, alô, alô Regina Casé. Até São Chico! Alô, alô Bruna Lombardi, põe mais água no feijão que na final nós estaremos aí. Atrás do caneco. Atrás da caneca. De "chopps".
Alô, alô Arto Lindsay (e os New York "niques", ein?), se prepara que a gente (a gente quem, cara pálida?) vai cobrir (êpa, êpa, ôpa, ôpa) o "gay games". Aliás, que roupa se usa nessas ocasiões?
Alô, alô, são-paulino Tadeu Jungle, alô, alô, palmeirense Branco Melo, alô, alô, pessoinha corintiana número 1562, alô, alô, santista Bob Wolfenson: mesmo que a gente não ganhe, a vitória é nossa.
"Cost to cost". Da costa leste ao velho oeste. Cruzando a América. Correndo atrás da bola. Rolando a bola. Rolando a vida. Poeta é artilheiro. Artista é o goleiro. Atrás do gol. Atrás do show.
O "show must go on". E o "gol must go on" também. E pare o mundo que eu quero subir. Então let's gol que o mundo não parou. Bye, bye, Brasil. A última ficha caiu.

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