São Paulo, sábado, 11 de junho de 1994
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Modelistas são estrelas ocultas da moda

JACKSON ARAUJO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O estrelato em torno dos estilistas e a badalação sobre as top models oculta uma espécie de profissional não menos importante para o sucesso da roupa: os modelistas. São eles os responsáveis por interpretar e dar vida às idéias do criador, trabalhando diretamente com o tecido.
A parceria entre estilista e modelista vem da alta-costura, celebrizada por nomes como Balenciaga e Chanel, em que a habilidade sobre o tecido é fundamental. Com a revalorização da técnica na moda atual, vem à tona novamente a figura do modelista.
São duas as técnicas para dar vida à roupa: a partir do desenho ou croqui, faz-se um molde de papel, a chamada modelagem plana; a outra opção é trabalhar de maneira tridimensional sobre um manequim, o "moullage".
O "moullage" (ou modelagem) permite ao estilista que ele veja melhor se o que ele desenhou no papel tem bom caimento.
Professora de modelagem no curso de moda da Faap e expert na técnica de "moullage", a francesa Jeannine Nipceron, 56, foi aprendiz da Maison Dior, em Paris.
"A técnica do "moullage" foi muito utilizada por mestres como Dior e Balenciaga. O método nasceu com a alta-costura e hoje é muito usado para a elaboração das peças produzidas em escala industrial", explica Jeannine, que hoje assessora a marca Der Haten.
Para Jeannine "o moullage é o método ideal também para o prêt-à-porter: "Não se gasta tecido à toa e o resultado final é melhor e mais rápido".
Cada vez mais estilistas trabalham em dupla com seus modelistas. No circuito internacional, marcas como Comme des Garçons e Chanel trouxeram para seus ateliês personalidades marcantes. Junia Watanabe –hoje se lançando como estilista– foi o braço-direito da estilista Rei Kawakubo, enquanto Karl Lagerfeld, da Chanel, conta com o talento do modelista Paquito.
No Brasil, houve recentemente troca-troca de bastidores. Um dos mais conceitudados profissionais do meio, o modelista Wagner Marquettie, deixou a marca Pág. 27 para trabalhar com o estilista Alexandre Herchcovitch. A novidade tem dez dias.
"Eu sempre trabalhei sozinho. Acho importante ver o traço do estilista na modelagem", diz Herchcovitch, 22. "Fico presente em todas as fases da criação. Se não gosto, refaço", conta o estilista, que diz que ainda não se acostumou com a presença constante de Wagner no ateliê.
Para Wagner Marquettie, "além da técnica, um bom modelista precisa captar a linguagem do estilista, seu modo de vida e entrar na personalidade do seu trabalho".
Opinião semelhante tem Walter Rodrigues, 34, que há cinco anos trabalha com a modelista Isailda Batista Fernandes, 48, a Isa: "Gosto que meus funcionários compartilhem de meus desfiles e do meu dia-a-dia". Para Walter, cumplicidade é fundamental, mas a modelista tem apenas a responsabilidade da técnica: "O toque final tem que ter a marca pessoal do estilista".
O estilista Marcelo Bonito, 31, trabalha com sua modelista Elizabete Demetriuk, 42, há três anos. O processo é sempre igual: Elizabete recebe o desenho de Marcelo, trocam idéias e discutem a forma ideal para a modelagem. "O modelista tem que entender o que o estilista está querendo. É trabalho de equipe", define Elizabete.
Já Fause Haten, 26, um dos estilistas com mais reputação como bom modelista, especializou-se em modelagem durante dois anos. Tanto que quando finalmente contratou uma modelista, opinava o tempo todo. Hoje Fause tem apenas um assistente para esta tarefa: "O estilista precisa ter domínio ilimitado sobre a técnica".

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