São Paulo, domingo, 12 de junho de 1994
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"Candidato deve ser temente a Deus"

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O sociólogo Paul Freston estudou durante quatro anos a relação entre evangélicos e a política.
No ano passado, defendeu a tese "Protestantes e Política no Brasil: Da Constituinte ao Impeachment", como conclusão de seu curso de doutorado na Unicamp.
Freston, 41, nasceu na Inglaterra e fez ciências sociais em Cambridge. Veio para o Brasil em 76.
Eleitor de Lula, Freston é evangélico e pertence à comunidade Koinonia, cuja atividade é restrita a Campinas.
Folha - Como os evangélicos vão se comportar nas próximas eleições?
Paul Freston - Creio que vai haver uma dispersão. Os evangélicos não votam em bloco. Em algumas igrejas as lideranças procuram criar um voto em bloco, mas o sucesso é parcial.
Folha - Em 89 não houve o voto maciço em Collor?
Freston - No segundo turno, as lideranças de várias igrejas pentecostais se posicionaram claramente a favor de Collor, fazendo campanhas internas. Nesses casos o voto evangélico pendeu consideravelmente para Collor.
Folha - E se de novo houver polarização no segundo turno entre Lula e um candidato mais próximo do centro?
Freston - Acho que haverá uma maioria evangélica a favor desse outro candidato. Mas creio que não tanto quanto em 89.
Por que o sr. acredita que a rejeição a Lula diminuiu?
Freston - Em parte porque diminuiu na própria sociedade como um todo. Outros fatores são o fim da guerra fria, mudanças no PT e o fiasco do governo Collor.
Folha - Até que ponto a religião do candidato influencia o voto dos evangélicos?
Freston - Se tivesse um candidato claramente evangélico isso influiria para muitos, se fosse uma pessoa com condições de exercer o cargo. Não bastaria ser evangélico.
Na falta de um candidato desses, influi o candidato poder se apresentar como pelo menos uma pessoa temente a Deus e não ateu.
Folha - Isso influencia?
Freston - Isso conta pontos. Em 89, várias igrejas pentecostais disseram que Lula era ateu e, por isso, poderia perseguir a Igreja.
Folha - Dos candidatos, qual seria, aos olhos dos evangélicos, o mais temente a Deus?
Freston - Tenho a impressão que está mais ou menos empatado. Porque uma coisa que também não ajuda é ser muito associado a certas manifestações católicas que são vistas por muitos evangélicos como um pouco idólatras. Vínculos com umbanda ou cultos afros prejudicam mais ainda. (CT)

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