São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 1994
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Quércia vai interiorizar a campanha

ANDREW GREENLEES
DO PAINEL

Sem conseguir decolar na campanha presidencial, o candidato do PMDB, Orestes Quércia, vai adotar até o primeiro turno da eleição uma estratégia baseada em quatro pontos para tentar reverter a difícil situação de sua candidatura.
O primeiro é o discurso sobre a interiorização do país. Depois, vem a tentativa de ser o terceiro pólo na disputa, ao lado de Lula (PT) e Fernando Henrique Cardosos (PSDB). Além da busca de apoios estaduais e de um esforço para desviar atenções das acusações de irregularidades administrativas.
Nos próximos dias, Quércia vai a São Simão, em Goiás, onde falará da necessidade de se desenvolver o interior brasileiro e defenderá a construção de hidrovias.
Depois, no Acre, voltará a prometer a construção de uma saída para o Oceano Pacífico, de forma a facilitar o escoamento dos produtos da Amazônia e do Centro-Oeste.
"Neo-juscelinismo"
É a tentativa de criar uma espécie de "neo-juscelinismo", a busca da identificação com o ex-presidente Juscelino Kubitschek, que governou o país entre 55 e 60 sob os conceitos da interiorização e do desenvolvimento.
A cúpula quercista acha que, pelo menos até o início do horário gratuito, em agosto, o candidato deve se ocupar das cidades menores, onde está cerca da metade do eleitorado.
A expectativa no comando quercista é chegar ao programa de TV com o mínimo de 10% nas pesquisas. Caso contrário, a candidatura passará a enfrentar dificuldades ainda maiores dentro do partido.
Na tentativa de quebrar a polarização entre Lula e FHC, Quércia investirá contra os dois. De Lula, dirá que é o candidato que não consegue resolver –ao contrário, que intensifica– o conflito entre capital e trabalho, o que impediria o desenvolvimento.
Para tentar tomar o segundo lugar de FHC, sustentará que o Plano Real não acabará com a inflação e que, em breve, os mesmos empresários que hoje apóiam o tucano estarão aumentando os preços e entrando em choque com o governo.
O problema para a estratégia de Quércia é que as críticas já vêm sendo feitas, mas Lula e FHC permanecem nos mesmos patamares.
E, ao mesmo tempo, o próprio peemedebista tem patinado nos mesmos índices (tem 8% na última pesquisa Datafolha), sempre próximo a Leonel Brizola (PDT).
Os principais aliados de Quércia apostam ainda nas estruturas regionais do PMDB para alavancar a candidatura presidencial.
Reconhecem que há problemas com o PMDB do Rio Grande do Sul, do Maranhão, do Rio Grande do Norte, do Paraná e da Paraíba, mas insistem que será possível solucioná-los –ou pelo menos diminui-los– até outubro.
A cúpula quercista espera ainda que a questão regional ajude a contornar o maior problema do candidato: a imagem de corrupção.
A idéia dos quercistas é evitar que o candidato passe a campanha se explicando. Sempre que possível, o comando quercista quer recrutar dirigentes de peso regional para responder dizendo que Quércia é atacado por razões eleitorais. Naturalmente, esses defensores terão à mão dados elaborados pelos quercistas sobre o governo Quércia em São Paulo.

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