São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 1994
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Selva estatal

Como se ainda fosse necessário, o país vem recebendo novas e exasperantes mostras da deplorável prática de empresas estatais de colocar seus propósitos corporativos acima de qualquer outra consideração, até mesmo dos interesses do Estado ao qual deveriam subordinar-se. Depois que veio a público que diversas estatais da área de transporte ferroviário haviam ignorado as normas do Planalto, convertendo seus salários pelo pico, agora descobre-se que empresas do sistema Telebrás autoconcederam-se aumento salarial em URV.
É certo que o governo corretamente anunciou a demissão de cerca de 50 dirigentes das empresas ferroviárias. O presidente da Telebrás, por sua vez, admitiu a irregularidade e afirmou –é esperar para ver– que já estaria sendo sanada. Ainda assim, o mero fato de distorções como essas terem ocorrido, de estatais poderem simplesmente ignorar ditames oficiais, revela o descontrole a que chegou esse setor.
De fato, a progressiva hipertrofia do Estado brasileiro gerou uma estrutura tão paquidérmica que o poder público acabou perdendo controle sobre seus múltiplos segmentos, permitindo o desenvolvimento de uma cultura própria nas estatais que tem a defesa do interesse próprio como objetivo primordial.
É um processo perverso que já vem de há muito e cujos custos acabam sempre sendo pagos pela sociedade. No caso da Telebrás, por exemplo, há estimativas de que o aumento salarial concedido resultaria numa conta adicional para o Tesouro –leia-se contribuinte– da ordem de US$ 400 milhões anuais. Isso, ressalte-se, num momento em que o equilíbrio orçamentário tem importância mais do que crucial.
Nesse sentido, não deixa de ser animador constatar que o governo parece afinal acordar para o fenômeno e buscar combatê-lo. As distorções existentes na selva estatal brasileira são tão profundas, porém, e seu custo para os contribuintes, tão grande, que qualquer esforço de controle dificilmente deixará de ser um mero paliativo. Solução definitiva, só com a privatização.

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