São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 1994
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Atacantes têm pior desempenho em corridas

FERNANDO RODRIGUES; MÁRIO MAGALHÃES
DOS ENVIADOS ESPECIAIS

Descontados os goleiros, os cinco atacantes da seleção brasileira são os que apresentam o pior desempenho em corridas de 300 metros, segundo uma listagem obtida com exclusividade pela Folha.
Romário, Bebeto, Muller, Viola e Ronaldo correm 300 metros em 49 segundos. O melhor tempo é de 45 segundos, obtido apenas por Jorginho, Cafu, Mazinho e Zinho.
Não existe prova de atletismo de 300 metros. O que há de mais próximo são as de 200 e 400 metros rasos. O recorde mundial para 200 metros é de 19s72. Na prova de 400 metros, o recorde é de 43s50.
As corridas de 300 metros são usadas pelo preparador físico da seleção, Moraci Sant'Anna, como parte do treinamento dos jogadores. Moraci costuma cronometrar o tempo de cada atleta para medir a evolução do grupo.
Apesar do desempenho pior dos atacantes, todos os jogadores da seleção brasileira estão correndo mais rápido hoje em relação ao dia da apresentação, em 17 de maio.
Moraci cronometrou os jogadores na semana da apresentação, na chegada aos Estados Unidos e na semana passada.
Quando se apresentaram, o melhor tempo para uma corrida de 300 metros era de 49 segundos, obtido apenas por Jorginho e Cafu.
Os dois laterais eram os únicos que conseguiam uma marca abaixo de 50 segundos. Os outros 20 jogadores ficaram acima dos 50 segundos na primeira avaliação.
A lista obtida com exclusividade pela Folha é o primeiro dado científico divulgado sobre o condicionamento físico dos jogadores da seleção. E mostra que houve evolução no condicionamento de todo o grupo.
Por causa da natureza diferente de suas funções, os goleiros da seleção foram testados com a corrida de 300 metros apenas na apresentação no Brasil e na chegada aos Estados Unidos.
Os piques de 300 metros são apenas um dos exercícios aplicados por Moraci Sant'Anna. Fazem parte do que chama de condicionamento anaeróbio.
O condicionamento anaeróbio é aquele que ajuda o atleta a suportar um esforço físico com menos oxigênio que o seu organismo exige (déficit de oxigênio).
Em termos práticos, quando o jogador participa de uma partida, seus batimentos cardíacos ficam mais acelerados. Quanto mais acelarado o coração, mais oxigênio é necessário. Mas há um limite para isso, que é quando o atleta se cansa e não consegue exigir mais do seu organismo.
"É aí que entra o resultado do treinamento anaeróbio, pois mesmo com o déficit de oxigênio o jogador vai buscar a energia nas suas gorduras e músculos para continuar correndo", explica Moraci Sant'Anna.
No treinos físicos no Brasil e nos Estados Unidos, a seleção enfatizou o condicionamento anaeróbio. Os jogadores foram divididos em três grupos: os melhores (grupo 1), os mais ou menos (grupo 2) e os piores (grupo 3).
Cada um desses grupos foi exigido em graus diferentes. Por exemplo, o grupo de Jorginho e Cafu, conhecido como grupo 1, tinha uma meta de fazer os 300 metros em 50 segundos na fase final de treinamentos. Todos ficaram abaixo dessa marca.
Os cinco atacantes, apesar de terem obtidos os piores tempos, estão todos dentro da marca exigida por Moraci Sant'Ana.
Os piques de 300 metros não eram feitos em condições ideais para que cada jogador pudesse tentar obter um tempo reduzido. Os atletas eram obrigados a correr várias vezes essa distância.
Entre uma corrida de 300 metros e outra, havia um pequeno período de descanso. Por causa desse intervalo, Moraci Sant'Anna chama esse treinamento de corrida intervalada.
O objetivo do exercício com corrida intervalada é exatamente simular uma situação próxima da realidade de uma partida. "Muitas vezes o atleta fica correndo durante algum momento do jogo sem parar. Chega a correr até 300 metros", diz Moraci.
Pela repetição do exercício, o atleta adquire condicionamento. "Infelizmente, num primeiro momento, há um enrijecimento dos músculos. Por isso fizemos o treinamento logo no início. Agora, os atletas estão condicionados e podem se soltar", afirma o preparador físico. (FR e MM)

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