São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 1994
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Lula e os "gaviões"

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – O jornalista Francisco Malfitani está embarcando para Salvador, onde fará a campanha de TV para Jutahy Magalhães Junior, candidato da dissidência do PSDB ao governo baiano.
Malfitani viaja mergulhado na angústia de antigo militante do PT, que, em função de divergências internas, afastou-se do partido, embora continue se dizendo eleitor de Luiz Inácio Lula da Silva.
Pelo menos parte de suas angústias pode passar a integrar o cotidiano dos brasileiros, na hipótese de vitória do PT.
Um dos casos narrados pelo jornalista é o do aumento das alíquotas do IPTU, no início de 1992, último ano de Erundina na Prefeitura. Malfitani, responsável pela Comunicação Social, propôs que fossem revistas as alíquotas de setores específicos, como os aposentados e desempregados.
Mas uma reunião da cúpula administrativa e partidária, Lula incluído, argumentou que o governo não poderia recuar, sob pena de dar uma demonstração de fraqueza. Admitir um erro costuma ser confundido com fraqueza, quando se está no governo. Lula, recorda-se Malfitani, chegou a dizer que essa era a típica briga que o PT gosta de comprar, a dos ricos contra os pobres.
Não adiantou argumentar que aposentados e desempregados não podem ser arrolados alegremente como ricos. O governo manteve a decisão (derrubada depois política e judicialmente).
Resultado: um dado dia, Erundina foi a um jogo do Corinthians e a torcida "Gaviões da Fiel" entoou um cântico devastador e impublicável. Será difícil provar que os "Gaviões da Fiel" integram o clube dos ricos.
A greve da CMTC, empurrada pelo sindicalismo petista, também em 1992, é outro exemplo citado por Malfitani de como se pode destruir o prestígio de uma administração, grande ou pequeno que seja.
Os dois episódios ocorreram em apenas seis meses, e Malfitani treme só de pensar nas consequências de casos semelhantes nos primeiros meses de uma eventual gestão Lula. Vai ser acusado de despeitado, antipetista, de estar fazendo o jogo da direita. Mas fatos são fatos.

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